Há pessoas que sofrem de bulímia afectiva. Engolem afectos e ternura dos que dizem amar com uma voracidade espantosa. Precisam permanentemente de assistência emocional para não cair em melancolia nem questionar toda a sua existência. Não concebem a solidão, por mais temporária que seja. No fundo, nunca deixaram de ser crianças, pequeninas e desamparadas, com pavor de perder de vista os pais ou protectores. Nunca cresceram. Disfarçam o seu egoísmo com expressões copiosas de altruísmo e com declarações repetidas de amor pelas suas “vítimas”.
Amar os outros significa também dar-lhes espaço, deixá-los respirar, deixá-los crescer e separar-se. A separação é uma realidade dolorosa, mas necessária e positiva, intrínseca à vida. Faz bem à autonomia e ao crescimento. Não compromete os sentimentos que se têm pelo outro. Pelo contrário, pode reforçá-los... desde que não seja demasiado longa ou definitiva ou conflituosa.
Gerir a separação daqueles que se amam não é fácil. Mas, uma boa gestão dessa situação é uma prova de maturidade e de confiança no outro e, sobretudo, em nós próprios.
3 comentários:
so, SO true...
hoje em dia, a solidão não é algo socialmente tolerável em pessoas de certa idade... todos nos acabamos por, em parte, ter um pouco receio da solidao... deviamos aprender mais a respeitar o espaço...
adorei o post
Há pessoas, sobretudo as introvertidas, que necessitam do seu espaço próprio e que não têm medo da solidão. Depois há aquelas que já se queimaram e que passam o resto da vida a se protegerem, autênticos gatos hirtos prontos a investir, vivendo por detrás de escudos invisíveis que pensam necessitarem mas que, se virem bem as coisas, só servem para lhes roubarem oportunidades. Isto não implica, porém, que por vezes também não precisem de reafirmação dos seus entes queridos, de ouvir “baboseiras” e de trocar miminhos com a pessoa mais importante das suas vidas. Acho que isso faz parte da natureza humana e é por isso que, até um certo ponto, acho que todos nós sofremos de …bulimia afectiva. E não me parece que isso seja assim tão mau como retratas.
E quanto à separacao ser necessária e positiva, o que frequentemente acaba por acontecer é “longe da vista, longe do coração”, i.e., o esquecimento. Mas nem sempre. Por vezes, a distância (fisica e temporal) não mata certos sentimentos e, por muita volta que se dê à cabeca, tal acaba por não fazer sentido; nesses (raros) casos, então concordo quando dizes que a separação faz bem à autonomia e ao crescimento – mas não deixa de ser menos dolorosa por isso.
Agora, em que estou inteiramente de acordo é com o teu último parágrafo. E vou mais longe: gerir a separação daqueles que se ama é a coisa mais difícil e dolorosa com que nos deparamos, sobretudo quando essa separação é definitiva, como no caso da morte ou do fim de uma relacao afectiva; e quando a separação é temporária, todo o cuidado é pouco e toda a atenção que possamos dar ao bem-amado é pouca. Acredito ser possível, mas doi como o diabo.
O meu ponto de vista, o meu tostão furado, valha o que valer.
TNR
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