sexta-feira, junho 08, 2007

O Homem de 2050


Tradução de excertos do livro acima representado editado pela "Fayard" em Janeiro de 2007 (páginas 271, 272 e 283):
"Enquanto o nómada das primeiras sociedades, como o cidadão das democracias de mercado, obedecia a um conjunto de regras complexas, expressão de ambições colectivas múltiplas, o cidadão do hiper-império não será enquadrado por qualquer contracto social. Numa situação de ubiquidade nómada, o Homem de amanhã tomará o mundo como uma totalidade ao seu serviço, no limite das garantias do comportamento individual; não verá o outro senão como instrumento da sua própria satisfação, um meio de obter prazer ou dinheiro ou, de preferência, os dois. Nada o levará a importar-se com o outro. Para quê partilhar quando é necessário bater-se incessantemente? Porquê fazer em conjunto quando se é concorrente? Mais ninguém pensará que a felicidade do outro possa ser-lhe útil. Ainda menos se procurará a felicidade na felicidade do outro. Toda a acção colectiva parecerá impensável, toda a mudança política, portanto, será inconcebível.
A solidão começará desde a infância. Ninguém poderá forçar os pais, biológicos ou adoptivos, a respeitar e amar os seus filhos o tempo suficiente para os educar. Adultos precoces, os mais jovens sofrerão de uma solidão que não compensará quaisquer redes das sociedades anteriores. Da mesma maneira, um número crescente de pessoas de idade, vivendo cada vez mais e, portanto, cada vez mais tempo sózinhas, não conhecerá quase ninguém entre os vivos. O mundo será apenas uma justaposição de solidões e o amor uma justaposição de masturbações.
(...)
O casal deixará de ser a sua principal base de vida e de sexualidade; escolherão, na maior transparência, amores simultâneos, poligâmicos ou poliândricos. Coleccionadores, homens e mulheres, mais interessados pela caça do que pelas predas, acumulando e exibindo troféus, serão filhos de famílias voláteis, reconstituidas, sem base geográfica ou cultural. Não serão leais senão a eles mesmos, interessar-se-ão, mais pelas suas conquistas, pelas suas adegas de vinhos caros, pelas suas colecções de arte, pela organização da sua vida erótica, pelo seu suicídio, do que pelo futuro da sua progenitura à qual não transmitirão nem fortuna nem poder."

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