Um tipo caminhava por uma estrada acima. O sol punha-se no cimo da estrada e a luz era doce como algodão. Dos dois lados da estrada havia choupos como aqueles que se encontram à beira dos rios. Mas, era uma estrada alcatroada e de àgua não havia o mais pequeno vestígio. A estrada continuava a subir como se se desdobrasse de forma inesperada, como se subisse até ao céu para tocar o sol que nunca se punha. Mas, dava a impressão que podia desaparecer a qualquer momento, por trás da estrada que se estendia para o infinito como uma lingua comprida de asfalto. Tudo parecia, ao mesmo tempo, efémero e eterno. Tudo podia acabar repentinamente ou continuar indefinidamente. Excepto o tipo que persistia em caminhar pela estrada acima. Talvez nem precisasse do sol a resistir no cimo da estrada, nem de dúvidas em relação aos choupos, nem da estrada...
Vem-me agora à ideia o mito de Sísifo que foi condenado pelos deuses a empurrar uma pedra enorme até ao cimo de uma colina, por ter contado aos mortais os segredos dos deuses. De cada vez que se aproximava do cume e que estava prestes a depositar ali a pedra, de tão extenuado, deixava-a cair pela colina abaixo. Sísifo recomeçava então a partir do sopé. E assim foi vezes sem conta e assim será por toda a eternidade.
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