terça-feira, abril 17, 2007

A tragédia de Virginia Tech

O que se passou na Universidade da Virginia nos Estados Unidos era perfeitamente prevísivel. Estou a ler o livro "Como Havemos de Viver? A Ética numa Época de Individualismo" de Peter Singer, publicado pela Dinalivro em Março de 2006 (1a. edição de 1993). Aí quase se anuncia o morticínio de ontem. Alguns excertos:

"O crime na América constitui a indicação mais viva da direcção que uma sociedade de indivíduos centrados em si próprios pode tomar".

"Em 1973, depois de ter sido criado na América e ter passado quatro anos em Oxford, cheguei a Nova Iorque para ocupar um lugar de professor convidado no departamento de filosofia da Universidade de Nova Iorque. Ao entrar pela porta da frente do edifício principal da Universidade, em Washington Square, deparou-se-me um espectáculo chocante: guardas de segurança da Universidade com armas a balouçar junto às coxas. No final do ano, já tomava como adquirida a presença de armas letais num cenário universitário".

"Nos Estados Unidos de hoje em dia, o tecido social degradou-se a ponto de ser legítimo temer que tenha atingido o ponto de não retorno. O problema é que as pessoas (...) [encaram] cada novo conhecimento com suspeição e quanto mais se tem esta atitude, mais difícil é os esforços cooperativos funcionarem para o bem comum (...). Não há precedentes para a cessação da degradação de uma sociedade tão populosa, tão egoista e tão fortemente armada com armas letais como a actual sociedade norte-americana".

"Após anos a saltar obstáculos sobre corpos em estações ferroviárias, a ser empurrados por mendigos nas ruas, muitos habitantes urbanos passaram da piedade ao desprezo e já não são afectados pelo sofrimento a que assistem".

"É aterrador pensar que podemos estar a testemunhar, nos Estados Unidos actuais, a primeira sociedade em grande escala na qual as 'redes morais' se tornaram demasiado fracas para sustentar modos de vida éticos".

"Estamos a caminho da criação de cidades que são meras agregações de indivíduos mutuamente hostis, vacilando no limite da guerra hobbesiana de todos contra todos".

Se a tudo isto se acrescentar a influência de um dos lobbies mais poderosos nos Estados Unidos (o dos vendedores de armas, fortemente relacionado com o Partido Republicano) que se opõe desde sempre às restrições ao comércio de armas, temos grande parte dos ingredientes para compreender o que se passou. E para compreender também a hipocrisia de George e Laura, os Bush. No país da Estátua da Liberdade circulam mais de 250 milhões de armas de fogo para uma população total de cerca de 300 milhões de almas.

Guerra civil no Iraque ? Qual quê !

2 comentários:

Miguel disse...

É claro que há uma outra maneira de analisar o caso que desresponsabiliza o sistema e que se afasta de explicações de natureza social ou política. Isto é: esta como outras tragédias do mesmo tipo que se têm produzido nos Estados Unidos seriam o resultado de actos puramente individuais de loucura. Não existiria nenhuma "patologia" colectiva, mas apenas actos isolados justificados por desvios de certos indíviduos (raros) às normas de bom comportamento. Mesmo assim, a facilidade do acesso dos "loucos casuais" às armas letais que permitiriam realizar as mais mortíferas loucuras permaneceria objecto de crítica e de reflexão. E não me venham com o argumento de que o acesso ilimitado a armas de fogo faz parte integrante do sacrossanto princípio da liberdade individual (de resto, solenemente consagrado na mais velha constituição democrática).

Anónimo disse...

acho q infelizmente me inclino mais para a "patologia colectiva".. pobres coitados dos salvadores do mundo q nem o proprio bairro salvam.. mas isto n é mau para toda gente..ha sp alguem q se fica a rir do acontecimento, ha sp alguém q lucra com a situação.."corrida ao armamento para andarmos tds mt seguros".. enfim a estupidez em excesso é q devia matar..