sexta-feira, abril 20, 2007

Presidenciais francesas


Este domingo realiza-se a primeira volta das eleições presidenciais em França. Deve dizer-se que se trata das eleições mais importantes nesse país dado o seu sistema presidencial. O presidente tem reais poderes executivos. Os principais candidatos são Sarkozy (centro-direita), Bayrou (centro-direita "dissidente"), Royal (socialista) e Le Pen (extrema-direita). As sondagens dizem que passam à 2a. volta Sarkozy e Royal, mas as surpresas são perfeitamente possiveis dadas as percentagens de abstenção e de eleitores que se dizem hesitantes. Nas anteriores eleições, a 2a. volta foi disputada entre Chirac e um surpreendente Le Pen que ultrapassou o socialista e ex-primeiro ministro Jospin na 1a. volta. Assim, para combater a extrema-direita, a esquerda fartou-se de engolir sapos ao votar... Chirac.

A campanha eleitoral tem sido disputadíssima com níveis de agressividade inauditos e com golpes baixos de todo o tipo. O que parece mais em causa são as desmedidas ambições pessoais. As ideias são relegadas para um plano secundário com os candidatos "convencionais" a optar por um centrismo eclético. Nunca a política foi tão fulanizada e os projectos políticos tão caricaturados. E isso é preocupante num país com a importância da França, nos contextos europeu e mundial, sofrendo de vários impasses que o bloqueiam e que são focos de permanente e crescente conflitualidade. Uma grande parte da população alheia-se da palhaçada da política tradicional e é tentada pelo discurso simplista e demagógico da extrema-direita. Le Pen continua à espreita como reserva de protesto populista.

A França é um país que se move no fio da navalha entre o culto proverbial do Estado (absolutismo, colbertismo) e o liberalismo. O primeiro está inscrito nos genes de todos os políticos de topo. O segundo é perfilhado por uma minoria de políticos sem reais possibilidades de ascender ao poder (caso de Alain Madelin) e praticado agressivamente pelos campeões da economia e da finança francesas. Esses grandes grupos económicos são extremamente bem sucedidos na economia global: casos dos grandes bancos e seguradoras como o BNP Paribas, Société Générale ou AXA ou dos grandes grupos industriais como a Renault, a Peugeot, a Airbus, a Total ou a Bouygues. Depois, há o imenso e omnipresente sector público com os seus milhões de "fonctionnaires" acusados de privilégios indevidos. E há uma classe política nacional que mexe os cordelinhos, mas que está cada vez mais distante das múltiplas fracturas da sociedade francesa e da mobilidade social "en panne" que afecta milhões de pessoas.

Os candidatos às eleições presidenciais de domingo não prestam. Sarkozy é um pequeno ambicioso sem escrúpulos, preparado a tudo (mas mesmo a tudo) para ocupar o palácio do Eliseu. Um "proxy" português seria... Paulo Portas. Ségolene Royal tem uma carinha bonita, é mulher (e isso talvez conte num ambiente politicamente correcto de discriminação positiva), mas é falsa como um camaleão e, sobretudo, não tem uma única ideia digna desse nome na cabeça. Também ela é obsecada pela presidência para redimir um passado com alguns traumas familiares. Bayrou é um homem do sistema que acordou agora para denunciar os vícios do sistema e para inaugurar uma nova era de leite e de mel. Le Pen é um crápula que diz resolver todos os problemas da França privilegiando os franceses contra os imigrantes e aumentando a cacetada dos polícias contra os marginais.

Francamente, se fosse francês teria um sério problema no próximo domingo, como tem tantos gauleses cansados da cacofonia de uma política que se auto-alimenta dos seus putativos dramas e que trata os cidadãos como meros espectadores de um show com uma audiência decrescente. Um fenómeno de resto interessante (e que vira os argumentos do Sr Le Pen do avesso) é o aumento da emigração dos franceses, principalmente jovens e com elevados níveis de formação, que se fartaram do "malaise français". Um dos destinos preferidos é... a Inglaterra. Quem diria...

3 comentários:

Alice disse...

A imagem está muito pequena, mas os "focinhos" da Royal e do Sarkozy estão em rolos de papel higiénico, certo? Só não consigo ler o que diz por baixo...

Miguel disse...

Os "focinhos" dos dois favoritos estão em rolos de papel higiénico, sim senhor, e por baixo diz "Font vraiment chier ceux deux-là" (esses dois fazem cagar) e "On voit plus qu'eux à la télé! y a plus de démocratie" (não se vê senão eles na televisão! não há mais democracia).

Miguel disse...

As sondagens confirmaram-se com Sarkozi (30%) e Royal (25%) na segunda volta. Factos mais marcantes: a mais baixa % de abstenção desde há mais de 30 anos (apenas 15%) e o recuo, pela primeira vez, da extrema-direita (Le Pen foi 4° com 11%). Portanto, os discursos de desmobilização dos cidadãos em relação à política convencional e de voto de protesto a favor do extremismo cairam (felizmente) por terra. Viva a democracia! Apesar dos vários elementos da sua pobreza que emergiram desta 1a. volta: personalização e mediatização desmesuradas, vazio das propostas políticas e escassez das diferenças de substância entre esquerda e direita...