sexta-feira, abril 13, 2007
Estação de Coimbra B
Nas estações de combóios das grandes cidades há quase sempre um ar de campo de batalha afectivo e social. Circulam almas danadas com o olhar perdido sabe deus aonde, entre passados de merda e futuros sem futuro. Gente que tem a má vida esculpida na cara, rugas fundas e uma cor amarela de vícios que há muito perderam o prazer. Homens e mulheres em trânsito, entre origens e destinos amaldiçoados. E ficam para ali, encostados a paredes escuras de tanta espera ou sentados em bancos gastos de desespero, olhando as linhas horrivelmente paralelas que levam a lado nenhum. Os combóios passam, uns devagar outros rapidamente, alguns param, mas o destino fica. Teimosamente. Puxam por malas cobertas de nódoas e de fome e cheias de vazio e de tristeza. E sempre aquele olhar fixo e gelatinoso. E sempre uma revolta impotente nos gestos e nos passos. Parecem espectros do que também eu podia ser. Os horários não contam. A partida é irrelevante porque, de facto, já partiram. Confundem-se com o pó levantado por mais um combóio que passa sem parar, indiferente. Como sempre.
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