Ontem foi 25 de Abril e, todos os anos, essa data me faz sentir, ao mesmo tempo, velho, triste e feliz.
O tempo é assassino e 33 anos são tantos. A memória dilui-se, as imagens de alegria e de vontade de mudança tornam-se cada vez mais amarelas. Tive sorte de viver esse período escaldante, entre 1974 e 1976, durante o qual as convicções se defendiam com força e inocência e se pensava que a sociedade e as pessoas podiam mudar de um dia para o outro. Depois, a realidade (ou o realismo dos interesses...) começaram a galgar e as coisas entraram nos eixos e os sonhos evaporaram-se. Os grandes poderes chamaram os « meninos traquinas » à ordem e toda a gente voltou à gestão das suas vidinhas, com algumas poucas, « patéticas » ou dramáticas excepções.
A revolução de 25 de Abril de 1974 desbloqueou um sistema podre e anacrónico, criou as condições para que Portugal se alinhasse, finalmente, com o modelo de desenvolvimento e com a democracia parlamentar dominantes na Europa Ocidental. A posteriori, parece claro que a revolução se transformou numa revolução do incipiente capitalismo português com um breve interregno de euforia popular e de excentricidade esquerdista. E é esta constatação que me faz sentir triste e algo resignado.
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