A decepção é directamente proporcional à expectativa. Schopenauer dizia que basta querer para sofrer. A vontade é a fonte de toda a acção humana e do sofrimento inerente à natureza humana. Nietzsche dizia que o que faz mover os homens e o mundo é a "vontade de potência". Tudo isto não são anátemas. São constatações com que se tem de viver, com realismo, sem dramas despropositados.
Nos tempos que correm, nos países ditos desenvolvidos, todos querem tudo e depressa: amor, família, dinheiro, sucesso profissional, saúde, beleza, etc. Qualquer coisa que seja menos do que a perfeição é, na melhor das hipóteses, meio fracasso. A democracia e a publicidade vendem-nos a ideia de que toda a gente pode chegar a # 1. Bastará trabalhar duro, ser honesto e inteligente. Quem lá não chega presume que não tem essas qualidades e, portanto, supõe ser mediocre. Os casos excepcionais de "self-made men" ou de "self-made women" são apresentados quase como regra acessível a todos os mortais. O que existe é uma cultura da ambição não uma cultura da satisfação. As pessoas esfarrapam-se para entrar em Olimpos que absorvem passivamente da superestrutura ideológica das nossas sociedades. A esmagadoria maioria não chega lá e sofre com isso.
Como é que se resiste à decepção que resulta das expectativas desmesuradas ? À falta de grandes causas e de modelos gerais de transformação da sociedade (porque, na prática, desde a falência do chamado socialismo real, só existe um modelo que é o dominante) as pessoas refugiam-se essencialmente no consumo, na família (veja-se a retoma da natalidade), nas micro-causas (ecologia, defesa das minorias, ajuda ao Terceiro Mundo, clubes disto e daquilo, etc.) ou em formas variadas de espiritualidade, frequentemente exteriores às Igrejas convencionais.
1 comentário:
gostei da análise!!dá q pensar..
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