Uma coisa que me chateia solenemente, como demonstração de um aparente hiper-positivismo e de uma "incontestável" soberania da ciência, é a tentativa de demonstrar (centificamente...) realidades que são do domínio das relações sociais, da ética, das emoções e do que de mais intangível e complexo tem a natureza humana.
Por exemplo, a diferente posição de homens e mulheres na sociedade seria devida essencialmente a factores biológicos; existiria uma propensão genética à homosexualidade, à depressão ou ao suicídio; as emoções e a sua ligação com a ética seriam neurológicamente explicáveis, etc. A subtileza da realidade humana seria reduzida a um deslumbrante sistema de equações matemáticas.
O que caracteriza a Humanidade é a sua complexidade e a sua imprevisibilidade. As pessoas e as suas relações não são manipuláveis através de engenharias (ou de bruxarias). De cada vez que isso se tentou o resultado foi simplesmente catastrófico. Os cientistas e os políticos (transformados em meros administradores da ciência), não podem reduzir as pessoas e as sociedades a cobaias para demonstrar determinismos perigosos.
As pessoas devem conviver com a incerteza, com o risco e com a ignorância. No tempo presente, tudo isso atinge níveis por vezes inquietantes, mas porventura não mais inquietantes do que noutros períodos históricos. A serenidade dessa convivência deve provir da cultura, da filosofia ou da religião. A ciência nunca conseguirá invadir esses territórios porque o "humano" é insondável, inquieto e, frequentemente, ininteligível. É por isso que é feio e belo, bom e mau, ao mesmo tempo...
Tudo isto não pretende combater a ciência ou apoucar a sua contribuição para o progresso da Humanidade e para a melhoria das condições de vida das pessoas. Pretende, simplesmente, moderar a arrogância e o fetichismo que, às vezes, se encontram no domínio da ciência e dos cientistas.
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