sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Uma certa caridade

Alguns homens e mulheres ricos e bem sucedidos, quando chegam a uma idade provecta, decidem optar pela caridade e pelas obras sociais. Depois de terem feito as maiores atrocidades e demonstrado flagrante falta de escrúpulos para se tornarem ricos e poderosos, vão para a reforma, constituindo fundações e dando provas de generosidade à direita e à esquerda. Revelam uma sensibilidade inesperada em relação aos pobres, doentes e degredados da vida.

Tudo isto é espontâneo, inocente e altruísta? Ou constitui uma desesperada operação de lavagem da alma e de luta contra a morte? Uma tentativa de, finalmente, ganhar notoriedade positiva e de conquistar um busto que perenize a breve passagem pelo mundo dos mortais, para lá de uma ou duas gerações sucessivas? Uma redenção dos pecados de que se alimentou a soberba da juventude e da maturidade?

Se de tudo isso beneficiarem, mesmo que simbolicamente, alguns marginais do sucesso, why not? Bem hajam os benfeitores anciãos que pretendem meter em ordem as suas consciências corrompidas pela ambição e pela vaidade de uma existência venal.

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