quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Inflação e distribuição de rendimento

Os bancos centrais e os institutos de estatística publicam dados àcerca da inflação que a colocam actualmente a níveis muito baixos nos países industrializados (2%-4%). Baseiam-se em métodos de recolha directa dos aumentos de preços e de ponderação desses aumentos, de acordo com cabazes de compras representativos do padrão médio de consumo das famílias. Nalguns países, como a França, pensa-se em introduzir índices personalizados de preços: um operário que ganha o salário mínimo não tem o mesmo tipo de consumo que um operador da Bolsa que pode ganhar bónus faraónicos ou ser despedido a qualquer momento sem pré-aviso. Os índices de preços são importantíssimos porque determinam, frequentemente, aumentos nominais de vastas categorias de rendimentos, como as reformas ou os salários. São, de facto, um dos elementos essenciais das negociações entre sindicatos e entidades patronais. A polémica instala-se de tempos a tempos àcerca da localização temporal do índice que deve ser tomado em conta: índice histórico ou previsional? Os aumentos de salários cobrem o futuro, a inflação passada é mais ou menos objectiva, a inflação prevista é um "best wish" do Governo que, à posteriori, se afastará quase sempre da realidade por defeito, levando assim a uma perda de poder de compra, caso os salários tenham sido aumentados na base da previsão.

A inflação tem grandes consequências sobre diversos domínios da actividade económica: distorce os preços relativos provocando uma afectação de recursos não-óptima; degrada o poder de compra dos beneficiários de rendimentos fixos ou deficientemente indexados; normalmente, privilegia os devedores em detrimento dos credores porque os primeiros transferem aos segundos um poder de compra menor no momento do reembolso dos empréstimos não indexados; etc.

A inflação pode ter um impacto enorme sobre a distribuição do rendimento em desfavor de categorias sociais como os reformados, pensionistas e outros detentores de rendimentos que não reajem perfeitamente à inflação real. Mas, o que é a inflação real? Determinada como? Através de qual metodologia? Baseada em números médios ou considerando a exposição particular de cada estrato social ao aumento dos preços?

Recentemente, um amigo mostrou-me que, através da equação de Fisher (M.V = P.T), se pode estimar uma taxa média geral de inflação da ordem dos 7%-8% na União Europeia (contra os 2%-3% oficialmente publicados). Aquela equação é clássica e simples de perceber: a massa monetária em circulação (M) a multiplicar pela velocidade com que o dinheiro muda de mãos (V) deve ser igual ao volume das transações efectuadas numa economia (T) a multiplicar pelo nivel médio de preços (P). A pergunta que se põe é a seguinte: quem beneficia do presumível desfasamento entre a inflação oficial (2%-3%) e a real (7%-8%)? Seguramente não os assalariados ou reformados que vêem os seus rendimentos aumentar, na melhor das hipóteses, de acordo com a inflação oficial prevista...

Terá isto alguma coisa a ver com o incrível manancial de juros, dividendos e rendas que tem existido nos últimos 5 anos? Nunca as grandes empresas, bancos e respectivos accionistas ganharam tanto, nunca as Bolsas cresceram de forma tão exuberante, nunca a distribuição do rendimento se enviezou tanto...

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