terça-feira, janeiro 09, 2007
A ilusão do destino
Acabei de ler o último livro de Amartya Sen (prémio Nobel de Economia 1998) "Identity and Violence". Um bom livro àcerca do potencial destrutivo de uma visão distorcida da identidade dos indíviduos. A tese do autor parece-me evidente i.e. cada indíviduo é uma pluralidade de identidades (política, religiosa, sexual, linguistica, cultural, racial, etc.) e a violência resulta essencialmente da absolutização de uma dessas identidades, ou seja, da homologação dos indíviduos segundo modelos restritos, rígidos e baseados em preconceitos. Um católico ou um muçulmano são muito mais do que isso mesmo, isto é, são seres humanos inteiros, com escolhas e sensibilidades que vão muito para além das respectivas filiações religiosas. São de esquerda ou de direita, ricos ou pobres, eruditos ou analfabetos, tolerantes ou intolerantes, homosexuais ou heterosexuais, etc, etc. O subtítulo do livro é particularmente elucidativo da tese defendida: "the illusion of destiny". Muita da violência e da intolerância reinantes resultam precisamente da ficção de que as pessoas estão condenadas a um certo destino por causa de uma apenas das suas múltiplas vinculações. Um muçulmano não poderia ser mais nada senão um muçulmano, segundo um esquema pré-estabelecido que implicaria, por exemplo, a aceitação da violência. O Ocidente seria, por definição, superior a outras culturas, o campeão da liberdade e da democracia. Et ainsi de suite... Ideias comuns com que se hiper-simplifica uma realidade que é complexa e variável. Com base nessas ideias tomam-se decisões, designadamente de política internacional, que desestabilzam o mundo e causam sofrimento a milhões de seres humanos.
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