domingo, dezembro 03, 2006

Tanguy

O Governo divulgou hoje um estudo sobre a juventude cujas conclusões essenciais são as seguintes: os jovens saem mais tarde de casa, adiam casamento e têm emprego precário. Todas as análises que tenho lido e ouvido enfatizam os factores económicos por detrás do fenómeno, que são sobejamente conhecidos. Não vi ainda realçadas as razões sociológicas que prolongam o "edílio" adolescencial em que muita gente teima em viver e que se transforma, frequentemente, em pesadelo, tais como: a resistência da família nuclear ao seu desmembramento; a hegemonia do princípio do prazer e do conforto sobre o princípio da realidade; a sociedade de sedução e de alergia à decepção em que vivemos; as condições difíceis e ambíguas em que se exercem a maternidade e a paternidade, as quais são ameaçadas por outras prioridades durante muitos anos da vida familiar; o autêntico sequestro a que se submetem reciprocamente pais e filhos; a imaturidade desses actores num mundo em que a responsabilidade, o risco e o esforço são autênticos papões.

Esta situação de maturidade e separação tardias parece mais visível nas sociedades do sul da Europa, em que a transição da família alargada para uma família nuclear se tem feito mais penosamente. Diria que em Itália, por exemplo, o fenómeno é ainda mais pertinente. Apesar de não dispor de estatísticas comparadas, estou quase certo de que nos países de cultura anglo-saxónica, em que o individualismo e a autonomia e responsabilidade dos filhos são muito mais encorajados, a tendência acima descrita não se tem manifestado da mesma maneira, nem tão rapidamente.

Para aligeirar o tema, aconselho o filme Tanguy, uma paródia divertidíssima (apesar dalgumas passagens a puxar para o riso amarelo) sobre o drama de um filho único de 28 anos, rico e bem sucedido, que insiste em permanecer no bem-bom da casa dos pais para grande desespero destes últimos que inventam todo o tipo de estratégias para se desembaraçar do dito "mammóne"...

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