sexta-feira, dezembro 08, 2006
O tempo que está
Uma das memórias mais curtas que conheço é a meteorológica. O tempo que está neste preciso instante é sempre excepcional: "nunca choveu assim", "não me lembro de tanto calor", "está um frio do caraças". Um pinguinho de chuva a mais ou uma semanita contínua de nuvens tornam-se autênticas tragédias, motivos de descontentamento que se juntam a todos os outros para nos transformar nas criaturas mais desgraçadas deste mundo. E então proclama-se que "nem a merda do tempo ajuda". O S. Pedro torna-se num algoz do nosso desânimo, as nuvens cobrem de tristeza as melhores intenções. O inverno do ano passado, a chuva da outra semana, as cheias do mês anterior são frivolidades de tal maneira remotas que parece que as bases de dados da meteorologia se apagaram ontem, por golpe de magia. Não há chuva ou sol, frio ou calor como os de hoje... Por outro lado, é rarissimo, particularmente entre os portugueses, que têm uma sorte do caraças com o clima (ao menos isso...), encontrar alguém que diga, sem reservas, "está um tempo perfeito". Isso é mais difícil do que encontrar a pedra filosofal. Há sempre uma brisa, aragem, humidade, gráuzito a mais ou gráuzito a menos que borram a pintura do tempo que nos colocaria em harmonia com o cosmos. Os portugueses são, portanto, uns empedernidos insatisfeitos com o tempo que Deus lhes deu, para além de, como todos os outros povos, terem uma memória curtíssima dessa dimensão, por enquanto fatal, da nossa existência.
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1 comentário:
haviam de vir todos morar para inglaterra uns tempos para ver o que é bom para a tosse, é o que é!!!
;o)
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