quarta-feira, dezembro 06, 2006

Dumping social

A UE quer promover a melhoria das condições de trabalho nos países menos desenvolvidos, impondo restrições à importação de bens e serviços provenientes de países não cumpridores de "labour standards" mínimos. Os países pobres irritam-se porque são punidos por causa do seu principal factor de competitividade, isto é, a sua pobreza...

A Índia, por exemplo, consegue aos poucos industrializar-se e aumentar a sua participação nas exportações mundiais porque não paga salários reais como os dos países ricos, porque tem jornadas de trabalho mais longas, porque não tem o mesmo nível de protecção social, etc. É por isso que a cerâmica, o vestuário, o calçado, etc. podem chegar mais baratos aos países ricos, de resto, para grande satisfação dos consumidores desses países. O problema é que, normalmente, os consumidores também são produtores, que se arriscam a perder os postos de trabalho nos sectores mais atingidos por essa "concorrência desleal" baseada no "dumping social". Espera-se que, no longo prazo, esses sectores sejam substituidos por outros criadores de emprego nos países ricos... Mas, como dizia Keynes, "no longo prazo estamos todos mortos" (n'est-ce-pas?) e o bem-estar não pode esperar...

Não vejo problema no "dumping social" se ele permitir criar as condições para a sua própria eliminação gradual, com o desenvolvimento económico permitido pela competitividade da pobreza. Portanto, a pobreza seria uma vantagem competitiva estática, de curto prazo, destinada a ser substituida por outras vantagens dinâmicas mais favoráveis, no longo prazo, aos trabalhadores dos países menos desenvolvidos. E os pobres têm paciência...

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