Miguel Esteves Cardoso publicou há pouco tempo o livro "A minha andorinha" (Assírio & Alvim), uma colectânea das crónicas que foi escrevendo para o DNa. Há textos divertidos, outros menos inspirados, outros pretensiosos, outros super-lúcidos, outros que metem o MEC no seu contexto paroquial, isto é, o de um eterno jovem, excêntrico e híbrido (mãe inglesíssima e pai lisboeta de excelentes famílias), que passeia os seus plebiscitados superlativos no meio do pobre maralhal de Lisboa.
Depois da picada no etílico e desregrado MEC, gostaria de chamar a atenção para uma das crónicas do referido livrinho. Chama-se "É complicado". Achei-a simplesmente deliciosa... Começa assim:
"Estarão os portugueses a ficar mais estúpidos ou apenas mais incompetentes? É que ultimamente tenho verificado com desolação que é cada vez maior o número de coisas e tarefas, que são caracterizadas como sendo de grande complexidade. Pergunta-se a um amigo se ele quer vir beber um café - até há pouco tempo um empreendimento relativamente fácil - e ele responde logo 'É complicado...' Vai-se sózinho beber o café, pede-se o troco para a máquina dos cigarros e o empregado desde logo confessa a complexidade daquela operação: 'É complicado, amigo...' Claro que acaba por dar o troco, mas entrega as moedas como se tivesse acabado de resolver o teorema de Fermat (...)"
Leiam o dito livrinho que não se arrependem. É divertido. Parece quase uma pastilha elástica com sabor a tutti-fruti que dura mais do que o das outras...
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