sábado, outubro 14, 2006

A história bonita do Grameen Bank

Apesar de ter muitas reservas em relação à lógica dos Prémios Nobel (em especial, do da Paz), fiquei contente com a escolha de Muhammad Yunus, este ano, para esse galardão. Li há uns anos a sua principal obra de divulgação, "O banqueiro dos pobres", um livro interessantíssimo que aconselho vivamente.

Yunus é um economista do Bangladesh que lançou nos anos 70 o Grameen Bank (Banco Rural), a primeira instituição de micro-crédito em todo o mundo. O Grameen empresta pequenas importâncias (20, 50, 100 dólares...) a pessoas pobres e excluidas, vítimas de calamidades sociais e naturais, sem qualquer garantia real, com juros baixos, sem fins lucrativos, para as ajudar a refazer as suas vidas, iniciando actividades artesanais. O banco financia-se essencialmente com depósitos dos seus clientes, pelo que funciona numa base de solidariedade e de mutualização dos recursos e dos riscos. As mulheres figuram entre os principais clientes. Mulheres abandonadas, maltratadas, com vários filhos a seu cargo, obtém pequenos montantes para comprar um forno para cozer pão que vendem no mercado ou uma máquina de costura ou um stock inicial de matéria-prima para fazer cestos tradicionais, etc. Essa gente sai da miséria, entra lentamente num circulo virtuoso ascendente e reconquista a sua dignidade com esses pequenos empréstimos. E a taxa de crédito mal-parado é mais baixa do que nos bancos comerciais... Os pobres fazem questão de reembolsar a ajuda que o Grameen lhes concede. Tomam a sua honra muito a sério.

O Grameen fez mais pelo Bangladesh do que os biliões de dólares que o Banco Mundial tem concedido ao país. Aliás, após vários anos de esforços e de luta contra a sabotagem e o cepticismo do poder instituido, o Grameen começou a ser olhado com seriedade e respeito. Foi nessa altura, e só nessa altura, que o Banco Mundial se precipitou a oferecer financiamentos ao Grameen, os quais foram inicialmente recusados pelo Sr Yunus... pois não queria entrar na lógica tradicional da ajuda internacional que fomenta o assistencialismo e a corrupção. O seu lema era e continua a ser: os pobres ajudam-se a si próprios com o seu trabalho, solidariedade e auto-estima.

Depois do sucesso do Grameen no Bangladesh, o micro-crédito tornou-se um modelo aplicado em todo o mundo, inicialmente nos países em desenvolvimento, depois também nos países industrializados, nomeadamente, para combater o desemprego de longa duração e a exclusão social. Existe uma espécie de Movimento mundial a favor do micro-crédito e mesmo os bancos convencionais lançaram unidades especializadas nesse sector. Enfim, o micro-crédito passou a ter direitos de cidade (link, link, link).

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