Fui ver hoje o filme que conta a história (verídica) de dois polícias que ficam presos nos escombros do WTC quando tentavam entrar nas torres para evacuar pessoas. Já estava à espera de algo contado de modo heróico e patriotista, não fosse um filme acerca da coragem de dois americanos... Mais do que ser um blockbuster, fui vê-lo por ser encabeçado por um actor que muito admiro: Nicholas Cage.
Fiquei positivamente impressionada na 1ª parte, dada a forma coerente e realista com que é retratada a pequenês, a impotência, a estupefacção dos polícias perante os ataques terroristas e, ao mesmo tempo, o desespero e a falta de informação das famílias sem quaisquer informações dos maridos, pais, filhos e irmãos. A história torna-se mais impressionante por sabermos que se tratam de casos reais, de sentimentos e contextos verdadeiros.
Mas, a partir da segunda parte do filme estraga-se tudo! Aparece, num momento de desespero de um dos polícias, uma luz desfocada que evidencia uma silhueta e, quando se começa a desvendar aquela forma, eis que é Jesus Cristo rodeado de luz, com a imagem do sagrado coração e, espantem-se, com uma garrafa de água de 2L na mão! E, como se não bastasse, a imagem é repetida passados cinco minutos.
Desde essa cena o filme perdeu, para mim, qualquer credibilidade.
3 comentários:
certos americanos não conseguem evitar o kitch, nem sequer na tragédia ou na expressão dos sentimentos; lamentável...
acho que não vou ver mais um filme que encena (à hollywood) grandes catástrofes, que exorcisa o medo de ameaça dos americanos os quais acabam sempre por escapar, vencer ou redimir-se; ele é o arrefecimento súbito do planeta, ele é ataques de extra-terrestres, ele é ataques nucleares de países inimigos, etc, etc
acho que se trata da síndrome das potências decadentes; estrebucham para sobreviver a ataques reais ou virtuais à sua hegemonia
pelo meu lado, tenho visto um certo cinema francês que também é bastante representativo das fobias e preocupações dos gauleses; cada país inevitavelmente produz o cinema que representa ou caricatura a sua situação cultural, social e política; os filmes em questão são "Fair Play" (uma hipérbole da falta de escrupúlos que pode acompanhar a concorrência desenfreada nos escritórios da Nova Economia), "Dans la Peau de Jacques Chirac" (uma paródia divertida sobre o dito cujo que sai completamente massacrado da brincadeira) e "Président" (mais um filme não muito conseguido sobre a perversidade e a sujidade do poder ao mais alto nível); é pena que esses filmes não passem em Portugal pese embora o facto de serem efectivamente algo franco-franceses
um outro filme francês recente que conta com uma interpretação magnífica de Gérard Dépardieu é "J'étais un chanteur"; o filme vale essencialmente pela performance do "charmant" mais feio do mundo, dado que a trama não acrescenta grande coisa em relação à história da possibilidade do amor entre quarentões desiludidos e perdidos na vida
para evitar equívocos: o início do meu anterior comentário não muda uma virgula no meu profundo desgosto pelo que (de tragicamente real) sucedeu em 11 de Setembro em Nova Iorque; há filmes sobre tragédias virtuais e há outros sobre as verdadeiras atrocidades que cairam sobre vítimas inocentes; diria que é infinitamente mais lamentável "brincar" com a segunda situação
(...) eis que é Jesus Cristo rodeado de luz, com a imagem do sagrado coração e, espantem-se, com uma garrafa de água de 2L na mão!
LOL. Eu fui ver o Voo 93 por esse já ter os bilhetes esgotados e, assim que vi o trailer, ainda antes do filme começar, achei que ainda bem que isso tinha acontecido, pois parece ser um filme todo de glorificação dos heróis americanos e não tanto de retratar com exactidão o que aconteceu naquele dia. Aliás, esta semana no suplemento Y do Público vem uma entrevista ao Oliver Stone em que ele diz isso mesmo, que fez este filme com o propósito de levantar a moral da América numa altura em que esta passa por um período negro.
Ainda assim, tenho curiosidade em ver o filme, mas não vou com as espectativas muito elevadas. Acho que o Voo 93, apesar de se basear quase todo em suposições, é um retrato muito mais forte e real do que aconteceu a 11 de Setembro.
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