sábado, abril 29, 2006

Itália à deriva

A situação em Itália está caótica. Não se sabe se haverá novo governo, nem quando, se o Presidente convocará novas eleições ou se tentará formar um "governo técnico". Tudo porque o sistema de duas câmaras (Parlamento + Senado) implica que as leis tenham de ser aprovadas por ambas. Ora, os partidos de Prodi poderão ter uma maioria clara no parlamento, mas têm uma pequeníssima maioria de senadores eleitos e o Senado inclui também os chamados senadores vitalícios (não eleitos) - creio em número de 7 - que podem pender para a direita. A luta começou já na eleição do Presidente do Senado. Eis senão quando, Andreotti, ele mesmo, o homem que tem permanecido na política italiana nos ultimos 50 anos, que foi Primeiro-Ministro 7 vezes pela democracia cristã, que foi recentemente acusado e ilibado de promiscuidade com a Máfia, Giulio Andreotti, parece muito bem colocado para ser eleito Presidente do Senado, configurando uma estranha maioria que seria adversa a Prodi e que inviabilizaria a governabilidade do país.

Mas - pergunta provocatória - a Itália, que teve mais de 60 governos depois da II Guerra Mundial, precisa mesmo de um governo?

Porém, como dizia outro dia um meu amigo, a Itália foi, de facto, até há pouco tempo, governada pelos mesmos, em diferentes governos que caiam como as cerejas ou que pareciam actos do mesmo drama. Ou seja: pela democracia cristã. Ora, não existe mais essa situação. Parece ter acabado um núcleo duro de poder que se substituia a si próprio. Agora, haverá dois blocos divergentes, cada um feito de múltiplos compromissos e de grandes contradições internas, que se enfrentam de forma genuina. E por isso é que a impossibilidade de formar um governo pode ser um verdadeiro problema de falta de estratégia e de direcção para o país.

3 comentários:

Alice disse...

Afinal não é só em Portugal que há confusão...

Miguel disse...

Então e a França... Nem imaginas! O Primeiro-Ministro Villepin está a considerar a demissão porque foi descoberto que mandou fazer uma investigação às contas do inimigo de estimação Sarkozy. Villepin julgava que Sarkozy tinha beneficiado secretamente de transferências de avultadas somas de dinheiro (através da Clearstream, sociedade domiciliada no Luxbg de custódia e transferência de fundos) que teriam servido para financiar o partido UMP e para benefícios privados. Afinal, pelo menos em relação a Sarkozy, parece que é falso. Mas, presume-se que haja muitos políticos franceses (de esquerda e de direita) envolvidos, incluindo o socialista Strauss-Kahn e a actual ministra da defesa Alliot-Marie.

Miguel disse...

Afinal, para a presidência do Senado, ganhou Marini, o candidato do centro-esquerda, mas não quer dizer grande coisa porque a possibilidade de uma maioria adversa a Prodi se formar no Senado em relação a projectos legislativos importantes mantem-se intacta. Agora, Ciampi, o Presidente da Republica, é suposto nomear Prodi para formar governo. Berlusconi já disse que apresentaria a dimensão na terça-feira...