quarta-feira, fevereiro 15, 2006

"Perdoai-lhes senhor, pois não sabem o que fazem"

Ao ler esta entrevista aqui, devo dizer que fiquei extremamente chocada, como, certamente, a maioria dos leitores ficará... Mas vale a pena perder alguns minutos no que se segue... Fico à espera de comentários.

A Homossexualidade é uma Doença – Entrevista do O Independente ao P. Nuno Serras Pereira
Entrevista a P. Nuno Serras Pereira conduzida por José Eduardo Fialho Gouveia

10. 02. 2006


JEFG - Teresa e Helena, duas mulheres, iniciaram na semana pas­sada uma batalha judicial para conseguir casar. O casamen­to entre pessoas do mesmo sexo deve ser permitido?

PNSP - Não é possível haver casamento entre pessoas do mes­mo sexo. O matrimónio exige capacidade reprodutiva.

JEFG - Porquê?

PNSP - Pode não haver capacidade reprodutiva por motivos de infertilidade. Mas quando o marido e a mulher se jun­tam através dos seus órgãos reprodutivos formam um só organismo. Por isso se fala de comunhão e de unidade.

JEFG - O casamento não deve, acima de tudo, ser uma questão de amor?

PNSP - Resta saber o que é o amor. Quando duas pessoas do mesmo sexo têm contactos genitais estão a instrumen­talizar os seus corpos como se fossem sub-humanos. Na unidade dos actos de tipo reprodutivo forma-se um só organismo.
JEFG - É impossível que haja amor entre dois homens ou entre duas mulheres?
PNSP - Pode haver entre um pai e um filho, entre uma mãe e uma filha, entre amigos e entre amigas.
JEFG - E amor em termos sexuais?

PNSP - Penso que não é possível. A homos­sexualidade é uma doença. A Associação Norte-Americana de Psiquiatria, em 1973, pela mão de Robert Spitzer, fez retirar a homos­sexualidade da lista de enfermida­des. Todavia, alguns anos depois, repensou a sua posição e verificou que uma terapia adequada era capaz de corrigir a incli­nação sexual dos homossexuais.
JEFG - Julgo que nenhum médico - a menos que seja extremamen­te conservador ou influenciado pela mentalidade católica - considera a homossexualidade uma doença. É do conheci­mento público que essa visão está ultrapassada...
PNSP - Não está. Nos Estados Unidos há muitos médicos - que nada têm a ver com a Igreja Católica e que são de diversas facções políticas - a afirmá-lo. Defendem que é uma doença de origem psicológica, um sintoma de uma neurose relacionada com um complexo de infe­rioridade. Resolvida a neurose, a atracção por pessoas do mesmo sexo desaparece. A prática de relações homos­sexuais reforça essa enfermidade, enquanto a abstinên­cia tende a favorecer a cura.
JEFG - Quando pensamos numa doença imaginamos algo prejudicial. A homossexualidade é nefasta em quê?
PNSP - Em termos psicológicos, há uma fixação narcisista. Não se procura o outro enquanto outro; cada um procura-se a si mesmo no outro. Os homossexuais não são capazes de atingir a verdadeira união e comunhão. Por outro lado, a nível físico sabemos - através de estu­dos realizados nos Estados Unidos - que a esperança média de vida dos homossexuais activos é de 45 anos, sem contar com aqueles que morrem de sida. E apenas dois por cento chegam aos 70. A taxa de incidência de doenças sexualmente transmissíveis é também muito mais alta e os níveis de criminalida­de entre a população homossexual, em termos per­centuais, são superiores. Finalmente, os dados mos­tram igualmente que a pedofilia é mais frequente entre os homossexuais.
JEFG - Tem noção de que um sexólogo apelidaria essas declarações de ridículas?
PNSP - Depende do sexólogo. Se fosse sério poderia compro­var o que eu digo.
JEFG - Todos os sexólogos que não partilham da sua opinião não são sérios?
PNSP - Podem estar mal informados ou partilhar de uma ide­ologia que os faz olhar apenas para uma parcela da rea­lidade e excluir determinados factores.

JEFG - Não admite que possa ser a sua ideologia que o leva a dis­torcer a realidade?
PNSP - Estou a falar de factos.
JEFG - Rejeita, portanto, que seja possível haver amor homossexual...
PNSP - Nem sequer há homossexuais. Há pessoas que padecem de inclinações homossexuais. Algo que lhes provoca grande sofrimento.
JEFG - Os homossexuais não dizem que sofrem por ser homossexuais...
PNSP - Não é isso que a minha experiência me ensina.
JEFG - Devem lutar contra a sua inclinação sexual e viver toda uma vida em negação?
PNSP - O problema está em agir de acordo com essa inclinação sexual. É preciso levá-los a descobrir a verdadeira iden­tidade. Há muitos testemunhos de homossexuais recu­perados.
JEFG - Se a homossexualidade é uma doença, qual é a causa?
PNSP - Os especialistas explicam que é uma psicose.

JEFG - Os especialistas não dizem que a homossexualidade é uma doença...
PNSP - Alguns não o dizem. Quando Robert Spitzer - que era presença assídua na imprensa e na televisão - verificou que estava enganado e recuou na sua posição a comu­nicação social cortou-lhe o pio.
JEFG - A comunicação social norte-americana está então domina­da por um poderosíssima "lobby gay"?
PNSP - O " lobby gay" tem grande influência na comunicação social. E infiltrou-se também na política e na Igreja.
JEFG - Considera-se homofóbico?
PNSP - De modo algum. Não tenho horror ao meu sexo. O homofóbico é aquele incapaz de lidar com pessoas do mesmo sexo. Não é o meu caso. Não concordo é que se destrua a instituição casamento, que é a célula-base da sociedade. É no casamento que são gerados os filhos. Por isso o Estado protege e promove a família.
JEFG - Isso significa que o Estado não deve proteger um casal hete­rossexual que não pode ter filhos?
PNSP - Isso não é uma família, é um casamento. A família só existe a partir do momento em que há filhos.
JEFG - Um homem e uma mulher casados não são, só por si, uma família?
PNSP - Não. Têm a família da parte do marido e da mulher, mas não constituíram família.

JEFG - Se fosse criada uma instituição paralela ao casamento, com outro nome, continuaria a ser contrário à união entre duas pessoas do mesmo sexo?
PNSP - A lei pode tolerar a homossexualidade - digo tolerar porque ela em si não é um bem, não é um comporta­mento positivo - se isso evitar males maiores. Daí a criar um estatuto jurídico para relações meramente privadas não vejo qualquer sentido.
JEFG - Deixe-me apresentar-lhe então a seguinte situação. Duas mulheres vivem juntas durante 30 anos. Por que razão, em caso de morte de uma delas, não pode a outra ter os mesmos direitos de uma viúva heterossexual?
PNSP - Os direitos implicam deveres correspondentes. Igualdade não é tratar da mesma forma circunstâncias diferentes.
JEFG - Rejeita que um homossexual possa ter os mesmos direitos de um heterossexual?
PNSP - Todos devem ter direitos iguais a nível da Constituição. Mas um homem e uma mulher que se casam é uma rea­lidade diferente de dois homens ou de duas mulheres que se juntam. Tratá-los da mesma forma é uma injustiça.
JEFG - São realidades diferentes porquê?
PNSP - Porque um homossexual não é capaz de constituir família.
JEFG - Há muitos casais heterossexuais que também não...
PNSP - Mas isso não depende das suas atitudes comportamentais. Alguém que é estéril não tem culpa da sua esterilidade, mas é capaz de praticar os actos do tipo reprodutivo.
JEFG - E um homossexual tem culpa de ser homossexual?
PNSP - Pode não ter. Mas pode ter culpa se reforçar a sua homossexualidade praticando actos homossexuais.
JEFG - É lógico que não concorda com a adopção por casais homos­sexuais...
PNSP - Não há casais homossexuais. Nunca lhes chamaria casais. Por outro lado, em termos de formação, é bom que as crianças tenham o pai como referência mascu­lina e a mãe como referência feminina.
JEFG - E as crianças que crescem só com um pai ou só com uma mãe?
PNSP - Isso apenas acontece devido a uma qualquer infelicidade. Não é a situação ideal.
JEFG - É melhor para uma criança viver numa instituição até à idade adulta do que com dois pais ou duas mães que lhe dão amor e carinho?
PNSP - Depende da instituição. Se for uma instituição como a Casa Pia era aqui há uns anos é capaz de ser bem pior. Se for uma instituição equilibrada é muito melhor do que crescer com dois pseudo-pais ou com duas pseu­do-mães.
JEFG - Há cerca de três meses, foi condenado por difamação devi­do a um texto que escreveu, intitulado "Os Abortófilos". Entre outras coisas, apelidou a Associação para o Planeamento dá Família (APF) de "organização 'serial killer"' e defendeu que esta promove o homicídio. Volta a afirmar o mesmo, ou admi­te que talvez tenha ido demasiado longe?
PNSP - Confirmo o que escrevi. É tudo verdadeiro e correcto. Um "serial killer" é alguém que matou várias pessoas. Essa organização pertence à International Planned Parenthood Federation, que promove o aborto no mun­do inteiro. Só nos Estados Unidos matou milhões de pes­soas ainda não nascidas.
JEFG - Uma mulher que faça um aborto deve ser presa?
PNSP - O objectivo não é prender mulheres. A lei tem uma função dissuasora. Deve ser avaliado cada caso para aquilatar da culpabilidade. Muitas vezes os juízes che­gam à conclusão de que não há razão para punir com pena de prisão.
JEFG - Se, tal como diz, fazer um aborto é matar uma criança, uma mulher que o faça deve ser presa?

PNSP - Um Estado democrático tem a obrigação de defender e de tutelar a dignidade de todos, independentemente da fase da sua existência. Um ser humano na fase da con­cepção tem tanto valor como três meses ou nove meses depois. Um Estado que não defenda a dignidade de todos é um Estado totalitário e tirano. Pode usar os mecanismos formais da democracia, mas está a colaborar activamente na matança de inocentes.
JEFG - Uma mulher que faça um aborto deve ser presa?
PNSP - Depende das circunstâncias.

JEFG - Em que circunstâncias deve ser presa?
PNSP - Compete ao juiz analisar.

JEFG - Também defende que o aborto é pior do que a pedofilia. É mais grave interromper uma gravidez antes dos três meses do que abusar e violar uma criança com pouco tempo de vida?
PNSP - Os dois crimes são abomináveis.
JEFG - Mas escreveu que um era mais grave do que o outro.
PNSP - Sim. Matar uma criança é mais grave do que abusar dela.
JEFG - É mais grave interromper uma gravidez antes dos três meses do que abusar e violar uma criança com poucos meses ou poucos anos de vida?
PNSP - É sempre mais grave matar um ser humano inocente do que abusar dele.

JEFG - Nesta semana, a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, informou que as escolas secundárias vão poder fornecer preservativos aos alunos, desde que com o con­sentimento dos pais. Como comenta?
PNSP - Promover a utilização do preservativo é de uma enorme irresponsabilidade. Os únicos exemplos de sucesso no combate à sida reconhecidos pela Organização Mundial de Saúde são o Uganda e as Filipinas. Em ambos os paí­ses promoveu-se primeiro a abstinência, depois a fide­lidade e só em último caso o preservativo. A partir do momento em que, nas Filipinas, se abandonou esta estratégia e se apostou na promoção do preservativo o número de pessoas infectadas aumentou. Em boas con­dições, o preservativo tem uma taxa de eficácia entre os 85 e os 90 por cento. É como jogar à roleta-russa. Eu não apanho um avião daqui para Paris se me disserem que só chegam lá 80 por cento dos aviões. Por outro lado, essa taxa de eficácia é calculada ao longo de um ano. À medi­da que o tempo passa, que se vai repetindo a roleta, a pro­babilidade desce para valores muito inferiores, na ordem dos 15 por cento ao fim de dez anos. É errado falar de sexo seguro. Por outro lado, o Estado não tem o direito de interferir na sexualidade das crianças nem de educá­-las a esse nível. Esse é um direito inalienável dos pais.
JEFG - Estamos a falar de consentimento dos pais...
PNSP - Mas vai haver aulas de Educação Sexual obrigatórias e gabinetes de atendimento cuja mentalidade é dominada pela APF. Nós sabemos o que vão fazer às crianças.

JEFG - O quê?
PNSP - Vão pervertê-las.

JEFG - Como?
PNSP - Qualquer relação sexual que não seja dirigida à pro­criação é uma perversão.
JEFG - Homens e mulheres devem abster-se de ter relações sexuais caso não queiram ter um filho?
PNSP - A relação entre um homem e uma mulher é uma relação de unidade e de amor. Se uma pessoa se dá a outra na totalidade do seu ser admite que está a ofere­cer a capacidade de ser pai ou a capacidade de ser mãe. Pode surgir um filho ou não, mas nada se faz para manipular e falsificar essa linguagem do amor.
JEFG - Qual é o problema de ter relações sexuais, tomando as devi­das precauções, para que não haja uma gravidez indesejada?
PNSP - Se tomar precauções significa recorrer aos períodos inférteis da mulher, não há qualquer problema.
JEFG - Que é um método falível, ou não?
PNSP - Não. A Organização Mundial de Saúde atribui-lhe 99,8 por cento de eficácia.
JEFG - E qual é o drama de utilizar o preservativo ou a pílula?
PNSP - Falsifica-se a relação. Deixa de haver uma entrega total.
JEFG - Há cerca de um ano, publicou um anúncio no "Público" explicando que se recusava a dar a comunhão a quem utili­zasse métodos contraceptivos. Qual é o sentido disto?
PNSP - Não disse que me recusava. Disse que em virtude do que está no Código de Direito Canónico estou impe­dido de dar a sagrada comunhão a quem não respeite os Mandamentos, a quem promove a morte de seres humanos inocentes, seja através de pílulas abortivas, de métodos cirúrgicos.

JEFG - ... Fala, inclusive, da reprodução medicamente assistida...
PNSP - Sim. Por cada criança que nasce dez foram mortas pelo caminho. Actualmente, em Portugal, temos congelados 40 mil seres humanos na sua fase embrionária.
JEFG - Um embrião que não vinga é uma criança que morre?
PNSP - É. Todos nascemos a partir de embriões. A informação genética está lá toda.
JEFG - Quem tenta ter filhos através da reprodução medicamente assistida ou quem utiliza métodos contraceptivos não pode comungar?
PNSP - Refiro-me a métodos que podem ter um efeito abor­tivo, como o dispositivo intra-uterino ou a pílula do dia seguinte. Um católico que não respeita o mandamen­to "Não matarás" não pode ir à comunhão.
JEFG - A mulher que usa o dispositivo intra-uterino é uma homicida?

PNSP - Um homicida é aquele que mata voluntariamente um ser humano inocente. Se quem usa esses métodos [dis­positivo intra-uterino, pílula do dia seguinte] tem consciência - normalmente isso não acontece porque as pessoas são enganadas - de que a sua utilização pode matar um ser vivo na sua fase embrionária está a cometer um homicídio.
JEFG - Então a mulher que toma a pílula do dia seguinte deve ir parar à cadeia?
PNSP - Isso é complicado do ponto de vista penal, porque nun­ca se pode ter a certeza de que houve um aborto. Mas há algo que me parece claro: o Estado ultrapassa as suas com­petências ao permitir a venda da pílula do dia seguinte e ao financiá-la através do Serviço Nacional de Saúde.
JEFG - Quando publicou esse anúncio, muitos sacerdotes conde­naram a sua posição e afirmaram que tinha feito uma inter­pretação abusiva do Código de Direito Canónico. Como comenta?
PNSP - Temos de compreender a ignorância dos outros.
JEFG - Concordaria com o fim do celibato para os padres?
PNSP - Não.

JEFG - Porquê?
PNSP - O celibato é uma riqueza enorme. Jesus Cristo casou com a Humanidade e participar deste celibato de Jesus Cristo, deste servir a Deus com o coração uno e indi­visível, é muito enriquecedor.
JEFG - Amar alguém e concretizar esse amor interfere em quê na relação com Deus?
PNSP - Não interfere.
JEFG - Então por que razão os padres têm de estar obrigados ao celibato?
PNSP - Hipoteticamente, é possível um Papa revogar essa dis­ciplina. Ela pode ser mudada, não é um dogma. Mas tem razões teológicas de fundo e está alicerçada na tradição da Igreja desde o início.
JEFG - É fácil contrariar o desejo sexual?
PNSP - Deus dá-nos essa capacidade.
JEFG - Como só entrou para o seminário aos 25 anos, suponho que já te­nha feito amor com alguém. Nunca sente desejo de voltar atrás?
PNSP - O combate pela castidade é um combate até ao fim da vida. Mas a satisfação interior que resulta de não ceder à tentação compensa qualquer outra coisa. Servir a Igreja representa uma alegria.

4 comentários:

Mariana disse...

Não são de estranhar tais respostas, visto que vêem de um padre... aliás, hoje em dia, para se manter a fé no Deus que a Igreja Católica proclama, só mesmo através de uma tal subversão e transformação da realidade, como este senhor e outros fazem.

B. César disse...

ah ah ah ah....
Este senhor devia fazer "comédia em pé" e animar a malta! Já não me ria assim há muito tempo! O problema é que muitas pessoas concordam com ele e isso entristece-me...

Alice disse...

Pois... O grande problema é a falta de evolução das mentalidades.
Há uns anos, respostas como a deste padre eram naturais... Hoje em dia já não o deviam ser.

Oscar disse...

Parece um entrevista a um senhor que viajou no tempo, do sec XVIII para agora. Isto é chocante... E eu ando num colégio católico! :s