quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Mais uma breve nota sobre a animosidade islâmica

Algumas pessoas dizem que os protestos mais ameaçadores contra as caricaturas de Maomé são liderados por uma mínoria de loucos integristas, os quais não representam a imensa maioria de muçulmanos moderados que não se reconhecem em tais excessos contra o Ocidente. O Islão seria assim dividido entre um punhado de revoltosos, potencialmente terroristas, e uma maioria que professa a fé islâmica e que seria "civilizada" e pronta a respeitar conceitos ditos ocidentais como a democracia parlamentar, a liberdade de expressão e a economia de mercado.

[Abro aqui um parêntesis para dizer que, até há pouco tempo, o Irão era considerado um dos países islâmicos em processo mais avançado de transição para uma sociedade de tipo ocidental, a avaliar pela importância da sua população universitária, por uma certa abertura à participação feminina na vida social e política, pelos padrões de consumo, pelo grau de urbanização da sociedade iraniana, etc. No entanto, verifica-se que o poder naquele país, não obstante as eleições, mantém-se largamente nas mãos de dignitários religiosos e de chefes mais ou menos tribais que, ultimamente, têm travado esse tal processo de modernização... De resto, parece que o problema com os planos de enriquecimento de urânio tenha também motivações de política interna. Isto é, seria um meio para alcançar um certo consenso, desviando as profundas fracções internas, intensificadas desde as últimas eleições presidenciais, para uma oposição a um inimigo externo, proverbial e de fácil identificação...]

O problema é que, não obstante a eventual pertinência dessa tese da minoria de malfeitores contra a maioria de moderados aliados do Ocidente, as preocupações mantêm-se intactas dado que, em vários países, o poder parece controlado pela dita minoria e é o poder que decide a guerra e a paz (sobretudo nesses países, dada a fragilidade dos mecanismos de expressão da sociedade civil)...

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