Quase todas as coisas que se percebem bem, são coisas vividas, sentidas na pele, as suas consequências foram experimentadas por nós próprios. Refiro-me a coisas da vida. Não estou a negar o raciocínio lógico-dedutivo, para cair num experimentalismo ingénuo. Mas, a verdade é que só hoje dou razão a certas coisas que o meu pai me dizia e que, na altura, me pareciam uma grande seca, distantes das minhas preocupações de então. Só hoje compreendo certas frases que lia nos livros. Quando as lia não passavam de obras de arte intelectual, de grandes princípios que suscitavam a minha curiosidade, que me faziam sentir culto e inteligente, mas que não me tocavam directamente, não tinham eco na minha acção, nas minhas escolhas, no meu quotidiano. Há verdades que só se tornam verdades quando é chegado o momento certo para que sejam consideradas como tal. Não tem sentido encher a cabeça de um indíviduo com coisas que ele não pode entender dado o ponto a que chegou na sua vida. Isto também se pode dizer de outra maneira, citando a banalidade seguinte: não há pior erro do que o de ter razão antes do tempo.
Aprender com os erros dos outros seria bom, mas temo que só os nossos erros nos ensinem o que é importante. Também se aprende sem ter de passar pelos erros. Ainda bem! Mas, o que se aprende com a dor da própria pele torna-se verdadeiramente convincente e perene. É pena, mas o potencial pedagógico do sofrimento é enorme. Dizer isto nestes tempos de elogio exacerbado do prazer, de todos os prazeres e vantagens, pode parecer bota-de-elástico, pré-moderno. Sofrer faz mal, mas tem um lado positivo... para as pessoas fortes. Fá-las crescer mais robustas ainda. Para as pessoas fracas, porém, pode provocar uma espiral de desgraça de desfecho imprevísivel. Watch out!
Mas, em geral, sofrer está associado à conquista de maturidade. Pode produzir lucidez e sabedoria, mas também pode levar ao cinísmo e à falta de escrúpulos, a uma visão sombria da vida e do mundo. O sofrimento deve, portanto, ser instrumental e transitório. Deve servir de contraste eloquente à felicidade e ao bem-estar, que se tornam ainda mais valiosos depois do sofrimento. Há casos patéticos de cultura do sofrimento. Como o livro de Dan Brown popularizou, os membros mais radicais da Opus Dei chegam ao ponto de auto-flagelar-se para atingir assim a plenitude da comunhão com Deus e da servidão a Deus. E há outros desvios de tipo patológico como o sado-masoquismo em que a fronteira entre o sofrimento e o prazer se esfuma completamente.
Queria apenas deixar um curto comentário àcerca da importância do "vivido" e a cadeia dos pensamentos trouxe-me por caminhos ínvios. Os pensamentos são mesmo como as cerejas...
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