O poder mais absoluto, temível e impiedoso é o poder que não tem de explicar as suas acções. Trata-se de um poder puro e duro, discricionário, genuino. As coisas devem ser de um certo modo, porque sim ! Porque se decide que assim seja sem ter de apresentar justificações à luz de critérios racionais ou morais aceitáveis por quem quer que seja.
Naturalmente, o exercício do poder é guiado por uma determinada racionalidade: a dos interesses dos seus detentores. Esses interesses contradizem frequentemente padrões consuetudinários de ética ou de razão.
Antigamente, o poder discricionário era-o e basta. Era um poder rude e violento. De certa maneira, honesto e frontal. Não se explicava ! Com o avanço da democracia e dos direitos humanos nos séculos XIX e XX, o poder discricionário não desapareceu, obviamente. Mas, passou a sentir necessidade de se justificar para obter uma aceitação mínima por parte dos seus destinatários/"vítimas", num contexto geral menos favorável ao autoritarismo.
Ora, o poder discricionário que tenta explicar-se a si mesmo cai facilmente no ridículo e em contradições inextricáveis. Entra em acrobacias hilariantes. Procura lógicas sofisticadas para justificar uma coisa e o seu contrário, conforme as conveniências e os contextos. Porque tenta meter uma racionalidade particular numa racionalidade geral... Explicar o inconfessável.
Num certo sentido, portanto, o antigo poder discricionário era brutalmente honesto. O moderno poder discricionário é hipócrita e insidioso na sua patética tentativa de "aggiornamento".
1 comentário:
O poder absoluto não existe.
é como a liberdade...é sempre limitada!
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