Toda esta excitação por causa da neve inesperada, este entusiasmo a tirar fotografias e a atirar pequenas bolas de neve uns aos outros, este êxtase da novidade, as famílias que entram numa espiral de júbilo, os orgãos de comunicação social que se tornam redundantes na celebração das paisagens... tudo isto apenas revela que é preciso bem pouco para animar a malta, para pôr os corações em uníssono contra o pessimismo ambiente.
Não quero com este comentário parecer presunçoso ou sobranceiro, tratar as pessoas como curiosidades zoológicas. Mas, é surpreendente a disponibilidade do povo para transformar a meteorologia anómala num acontecimento que eclipsa todos os outros, que aquece as emoções, que pinta de um branco belíssimo todos os humores. A vida fica mais bonita, com uma simplicidade desconcertante, sem aumentos salariais, sem euro-milhões, sem combate político, sem protestos. O telejornal passa a ser feito de neve a 80%. O mundo apagou-se para se converter num imenso e carinhoso manto branco.
Bem hajas, São Pedro. Anti-ciclone dos Açores: desloca-te mais vezes para o Báltico pois precisamos do branco da felicidade que nos traz esta neve providencial. É óbvio que não seria assim se a neve caísse com mais frequência no nosso país, como é o caso de outros países mais a Norte (que não consta que tenham indíces particularmente elevados de alegria e de exaltação). O que prova que o valor das coisas reside também (sobretudo?) na sua raridade.
1 comentário:
causa também desilusões a quem não viu nem um floco! ;)
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