Resisti um bocado a escrever àcerca de Bill, o Gates. A personagem é de tal maneira consensual, na contestação e na adulação, que não há muito mais para dizer. O homem é muito esperto. Joga com grande perícia em todos os tabuleiros: na finança, na tecnologia, na política, na caridade bilionária, na concorrência e na negação da mesma. Consegue fazer uma autêntica alquimia entre público e privado, entre egoismo e altruísmo, entre individualismo e solidariedade. O Bill é um trapezista do sistema e consegue transformar as suas iniciativas mediáticas numa bola de neve de visibilidade e de exaltação da generosidade, sua e de Melinda. Nunca vi a Melinda... O Bill consegue pôr a seus pés políticos de todo o mundo, decisores de todas as côres. É um ícone, uma instituição que todos querem lamber e a quem todos querem aceder.
O Bill atingiu uma tal escala de poder financeiro que se pode arvorar (também) em campeão da generosidade. E dessa generosidade resultam efeitos positivos sobre a sua fortuna pessoal. A coisa transforma-se num circulo virtuoso entre benefícios externos e pessoais. Uma coisa segue a outra, agora, sem se distinguir o que está primeiro e o que vem depois.
O Bill é atacado não sei por quantos concorrentes por manter um poder de monopólio. Ele responde que o poder que o seu sistema windows conquistou foi o fruto de muita criatividade e de muito investimento. Portanto, é justo que agora usufrua de um retorno à altura dos riscos que correu e do dinheiro que investiu. Os concorrentes dizem que Bill apenas se aproveita das complementaridades de sistemas (da economia de rede) que conseguiu impôr numa fase particular da indústria de software. Mas, agora, chega: devem atenuar-se as barreiras à entrada. Os processos anti-trust que se abriram contra Bill são inúmeros, quer nos Estados Unidos, quer na Europa e noutras partes do mundo. Mas, que independência têm os reguladores para se imporem à proeminência do homem, para reporem condições normais de concorrência, quando governantes de todos os países e quadrantes acorrem em massa a bajulá-lo e a pedir alguma migalhita para os respectivos Planos Tecnológicos? Os pequeninos do poder bebem-lhe as palavras. Uma banalidade dita por Bill transforma-se em portaria ou em decreto. Que desfaçatez seria essa de remover de um tal génio e benfeitor a máquina que alimenta a genialidade e a generosidade de que se alimenta meio mundo. No fim de contas, do monopólio de Bill beneficia tanta gente, pobres e ricos, espertos e estúpidos... Porque Bill usa o egoismo para alimentar o altruismo e vice-versa (mas este vice-versa é tolerado com bonomia).
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