quinta-feira, janeiro 26, 2006

A bondade da democracia

O Hamas (movimento extremista que defende, designadamente, a irradicação do Estado de Israel) ganhou as eleições livres e democráticas na Palestina. E agora, Mr. Bush? Há boa e má democracia? A democracia que entra em conflito com os interesses americanos será boa?

5 comentários:

Alice disse...

acho que o problema maior não tem a ver com o Bush... tem sim a ver com o grupo que agora representa a palestina e que foi escolhido pelos palestinianos.
quais são as conclusões que podemos retirar da liderança de um grupo extremista no médio oriente?

Miguel disse...

Desculpa lá, mas levo a lógica da democracia (burguesa) até às últimas consequências. A democracia é um valor absoluto ou deve ser qualificada, dependendo dos seus resultados? Um povo que vota maioritaria e livremente uma solução armada para a sua libertação tem menos legitimidade do que um povo que de 4 em 4 anos escolhe os seus opressores (para usar a famosa fórmula de Lenine)? Repara: não estou a escolher nem a valorar nenhuma das opções. O Sr Bush diz que a missão da América é levar a democracia a todos os cantos do mundo e que aceita as escolhas que os povos soberanos façam. Será mesmo assim ou será que o Sr Bush preferiria outros métodos (não democráticos) para atingir resultados mais consentâneos com os interesses vitais dos Estados Unidos? De facto, a América não tem hesitado em apoiar ditaduras quando elas são compatíveis com esses mesmos interesses. Exemplos? O próprio Iraque, o Chile, o Vietname do Sul, a África do Sul do apartheid, etc.

Caímos no velho debate da politica internacional e da diplomacia baseadas na chamada "real politik" em contraposição com a diplomacia dos valores. O Sr Kissinger fez teoria e (sobretudo) muita prática na matéria..

Alexandre Carvalho disse...

Epah o ano passado um dos nomeados para o «Prémio Nobel de Economia» (aka Prémio do Banco da Suécia) eram nem mais nem menos um activista extremista israelita que defendia a punição colectiva para os palestinianos, de nome Robert J. Aumman. Senhor que inclusivé defender tão nobre acção através da opressão, teorizou a guerra como se de um tabuleiro de xadrez se tratasse, e foi um dos 'sabotadores' dos processos de oslo. sem dúvida, um curriculum recheado e invejado por muitos.

e depois há que saber contextualizar estas eleições: vêm numa altura em que deixam a faixa de gaza isolada mas sem controlo sobre as suas fronteiras e em que o governo do Sharon tinha irrompido pela Cisjordânia adentro , dividindo-a e isolando-a em 2 partes. Conclusão: o território palestiniano está hoje dividido em 3 aldeias. É óbvio que as intenções israelitas é de expulsá-los de lá. E como é que um povo reage quando quem pode ajudá-los diplomaticamente não o faz? A única coisa possível: recorrer às armas.

Alice disse...

Lá está.. Não quero dizer que a democracia só é boa quando os resultados são favoráveis a quem quer que seja. Quero dizer que devemos tirar conclusões sérias dessas decisões maioritárias. Porque é que os Palestinianos decidiram dar liderança ao Hamas? Como disse o Alexandre, vêm numa altura em que deixam a faixa de gaza isolada mas sem controlo sobre as suas fronteiras e em que o governo do Sharon tinha irrompido pela Cisjordânia adentro , dividindo-a e isolando-a em 2 partes. Conclusão: o território palestiniano está hoje dividido em 3 aldeias. É óbvio que as intenções israelitas é de expulsá-los de lá. E como é que um povo reage quando quem pode ajudá-los diplomaticamente não o faz? A única coisa possível: recorrer às armas.

Miguel disse...

A vitória do Hamas é também uma resposta à corrupção generalizada da Fatah. Na verdade, foi provocada tanto por factores externos (Israel) como internos. É curioso que a vitória pelos votos poderá empurrar o Hamas para uma abordagem mais pacífica do problema, mais negocial. A melhor forma de reciclar o terrorismo é dar-lhe um "direito de cidade", integrá-lo em lógicas não terroristas!

Mas também é verdade que se podem considerar os actos de agressão de Israel como actos de terrorismo de Estado. Um Hamas (sem mudança) no poder significaria a formalização de um terrorismo de Estado palestiniano contra um terrorismo de Estado israelita.