terça-feira, janeiro 10, 2006

Alguns remédios contra a crise de financiamento do sistema de reformas

  1. Fazer mais criancinhas. Mas: mais abono de família, menos mulheres ou homens a trabalhar para cuidar dos filhos ou mais despesas com creches? Além disso, só se notaria a longo prazo e depende, também, de variáveis de natureza social e cultural não controláveis.
  2. Morrer mais cedo (também menos despesas de saúde). Prefiro não entrar por aí... [A lógica do capitalismo (selvagem), levada às suas últimas consequências, conduziria à eliminação física dos elementos não produtivos?...]
  3. Importar mão-de-obra jovem e produtiva. A "imigração disciplinada" pode, de facto, ajudar.
  4. Começar a trabalhar mais cedo. E o complexo de Tanguy? [Vejam http://www.1000films.com/tanguy/] Mais formação e melhoria do capital humano significa entrada mais tardia no mercado de trabalho.
  5. Passar à reforma mais tarde. Mas, a um nível de emprego constante, existiriam menos oportunidades para os jovens... e a produtividade poderia ressentir-se... ou o desemprego aumentaria, levando ao crescimento dos correspondentes subsídios.
  6. Receber pensões de reforma mais baixas. Ainda mais baixas? E o limiar da pobreza?
  7. Contribuir mais enquanto se está em idade activa. Ainda mais? E o impacto de menor rendimento disponível dos activos sobre a despesa e o produto?
  8. Aumentar a produtividade dos que são cada vez menos a contribuir para os que são cada vez mais a receber. Não se quer outra coisa, mas escasseiam as varinhas do condão. Esta seria uma das soluções sustentáveis: aumentar o bolo, em vez de jogar tudo sobre a sua repartição entre activos e não activos.
  9. Cada um por si e Deus (que parece existir cada vez menos...) por todos, isto é, passar aos sistemas de capitalização em que cada um desconta para si próprio, esperando que o mercado de capitais faça os milagres que a economia, em geral, não faz. E o Estado deixa de ser uma máquina de solidariedade e de redistribuição...
Parece que estamos feitos! Uma boa parte das "soluções" significaria perda das tradicionais regalias do Estado-Providência, o fim de Bismarck.

Muitas das variáveis que determinam a evolução do financiamento do sistema são estruturais e a sua projecção a longo prazo é obra de aprendizes de feiticeiro. Dizer, por exemplo, que a taxa de crescimento demográfico ou a taxa de crescimento do PIB vão ser de X ou de Y nos próximos 20, 30 ou 50 anos só faz rir. Depois, o catastrofismo, misturado com alguma ignorância (ou desonestidade intelectual), também serve os beneficiários da crise do actual sistema de distribuição: as companhias de seguros e os gestores de fundos de investimento. Mas, a história dos fundos de pensão é outra ainda, que talvez mereça a pena abordar numa outra oportunidade.

2 comentários:

Alice disse...

andas a assustar-me com as hipóteses muito capitalistas:P

Miguel disse...

Atenção à oportuna denúncia que fez hoje a CGTP: as entidades patronais declaram somente 50% dos salários e outras remunerações para efeito de descontos para a segurança social. Mais uma para agravar o défice e transformar contribuições sociais em lucros privados.