Ambos os candidatos revelaram uma confrangedora (e talvez inesperada) ignorância relativamente a temas fundamentais da nossa sociedade. Houve momentos quase hilariantes de confusão e de "conversa de café". Alegre não sabe o que é o "pensamento estratégico", diz que o TGV entre Lisboa e Porto será muito caro e terá muitas paragens. Soares mete os pés pelas mãos em relação às privatizações, não sabe o que é que, no sector eléctrico, é público e privado, diz que precisa de estudar (!) os dossiers antes de se pronunciar sobre a Ota, defende com unhas e dentes os políticos. A ingenuidade de Alegre veio ao de cima. A experiência e a habilidade de Soares para a resposta caceteira foram mais uma vez evidentes.
Ambos reconheceram a substancial incapacidade do Presidente da Républica para resolver o que quer que seja, a tal ponto, que os eleitores se podem perguntar porque diabo é que são chamados a votar numa figura quase só decorativa. A única arma efectiva de poder será a "bomba atómica" da dissolução que ambos prometem não utilizar, salvo em circunstâncias verdadeiramente excepcionais, em nome da estabilidade e da legitimidade democrática. Confessaram não poder lutar contra o desemprego, não poder resolver o estado caótico da justiça, etc., etc. porque tudo isso é da competência do Governo. Podem vetar leis mas, em caso de maioria absoluta no Parlamento, essas mesmas leis podem acabar por ser ratificadas. Aparentemente, a única coisa que o Presidente pode fazer é conversar com a malta, pedir ao Primeiro-Ministro para se comportar como deve ser, percorrer o país a distribuir sorrisos, coragem e boas intenções, representar o país no estrangeiro, efectuando viagens a sítios mais ou menos exóticos, à custa do erário público, porque o interesse nacional a isso "obriga".
Outra consequência do debate é o facto de Cavaco, apesar de tudo, sair mais credibilizado por não se envolver em tricas partidárias e por demonstrar um conhecimento mais técnico e estruturado dos problemas. Acho que Cavaco foi o vencedor do debate de ontem... infelizmente!
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