Os Portugueses aprenderam rapidamente a consumir à moda europeia. Ele é marcas de topo de gama, centros comerciais, shoppings, factory outlets, hipermercados, etc. etc.. Há cidades de província em Portugal com lojas mais sofisticadas do que o que se pode encontrar em grandes cidades do centro da Europa. Há uns meses, passei por Vila Real e avistei um mega edíficio ao longe que, presumi, fosse um teatro, um pavilhão gimno-desportivo, uma sala de exposições… Qual quê! Era o Dolce Vita de Vila Real. O próprio nome (Dolce Vita) diz (quase) tudo. Lá dentro, encontrei pessoas com aspecto rural que se passeavam deslumbrados, que comiam nos fast-food, que entravam na Massimo Dutti ou Sphera extasiados, descobrindo uma nova "dignidade".
Dizia eu que os Portugueses aprenderam rapidamente a consumir de forma cara e requintada, adquiriram uma familiaridade surpreendente com modelos de consumo e estéreotipos normalmente associados a níveis superiores de rendimento e de "cultura". E isso não tem mal nenhum. Afinal, tem de se começar por algum lado... Agora, o problema é a sustentabilidade desses hábitos, dado o atraso do modo de produção e a fragilidade dos rendimentos que sustentam o consumo. Mas, esse é um outro debate que nos conduz, talvez, ao cerne do modelo de crescimento da economia portuguesa nos últimos anos, baseado em endividamento, subsídios, expedientes, importações e baixos salários.
Dizia eu que os Portugueses aprenderam rapidamente a consumir de forma cara e requintada, adquiriram uma familiaridade surpreendente com modelos de consumo e estéreotipos normalmente associados a níveis superiores de rendimento e de "cultura". E isso não tem mal nenhum. Afinal, tem de se começar por algum lado... Agora, o problema é a sustentabilidade desses hábitos, dado o atraso do modo de produção e a fragilidade dos rendimentos que sustentam o consumo. Mas, esse é um outro debate que nos conduz, talvez, ao cerne do modelo de crescimento da economia portuguesa nos últimos anos, baseado em endividamento, subsídios, expedientes, importações e baixos salários.
De facto, queria simplesmente falar do comércio de Coimbra e do destino da Baixa. (Mas, como se sabe, a conversa é como os cerejas…) Primeiro, foi o Shopping Coimbra, depois os Retail Park e o Dolce Vita e brevemente será o Forum. As pessoas perguntam como se justificam todos estes investimentos numa cidade com uma indústria incipiente e moribunda, com uma dependência quase absoluta relativamente a um sector terciário convencional e pouco eficiente, com um poder de compra médio que, em princípio, não cresce ao mesmo rtimo da oferta. As respostas para este aparente paradoxo são variadas, incluindo a atracção de novas clientelas (pessoas residentes que mudam de padrão de consumo, pessoas de fora de Coimbra que afluem à cidade atraídas pelas novas catedrais do consumo) e, sobretudo, a decadência inexorável do chamado pequeno comércio tradicional. Ora esse é o comércio que se concentra na Baixa. Passeando por ali nesta quadra natalícia, pude verificar o tipo de consumidores e de mercadorias que caracterizam esse comércio. Há uma mistura "harmoniosa" de pequenas lojas de arquitectura degradada com produtos a baixo preço e de qualidade duvidosa, com ciganos barulhentos e coloridos que, de facto, atraíam a maior parte dos passantes, gente modesta, seguramente da periferia de Coimbra, que, de passagem, entre uma urgência e outra, arranjavam tempo e (pouco) dinheiro para inventar alguma prenda de Natal.
Esse comércio está condenado por algumas boas razões (os consumidores vão tendo mais poder de compra e aumentando as suas exigências de qualidade e sofisticação) e outras más razões (os pequenos comerciantes não conseguem reinventar a sua actividade e adaptar-se aos novos tempos, as autoridades não tomam iniciativas no sentido de encorajar os comerciantes e os proprietários dos imóveis a modernizar-se). Se nada for feito, digamos, dentro de 10 anos, a Baixa de Coimbra será uma mancha urbana sempre mais degradada e com frequência cada vez mais problemática.
O que se pode fazer para evitar essa tendência ? Temo que os novos espaços comerciais sejam o futuro do grande comércio, do comércio de massas. A Baixa não pode lutar com sucesso nesse mesmo terreno. Na Baixa, haverá lugar para um comércio alternativo, de pequenos volumes e de clientelas mais ou menos "marginais", por exemplo, um comércio de artesanato, de productos étnicos, de antiguidades. A exemplo do que se passa nos centros históricos renovados de outras cidades europeias, a Baixa também poderá ser um espaço de actividades culturais, sociais e lúdicas, incluindo galerias, salas de exposição, cafés-concerto, pubs, restaurantes alternativos, pequenos teatros. A Baixa deve também ser repovoada, isto é, a habitação também tem uma função a desempenhar nesse processo de renascimento, de refundação da vida social dessa àrea histórica da cidade. Obviamente, tudo isso, implica uma mobilização de recursos, públicos e privados, bem como muita vontade, sensibilidade e cultura por parte dos agentes da renovação urbana necessária. Será que todas essas pré-condições existem em Coimbra ou toda esta lenga-lenga não passa de uma utopia irrealizável e a Baixa está condenada a transformar-se num feio testemunho de uma lumpenCoimbra de outros tempos.
Esse comércio está condenado por algumas boas razões (os consumidores vão tendo mais poder de compra e aumentando as suas exigências de qualidade e sofisticação) e outras más razões (os pequenos comerciantes não conseguem reinventar a sua actividade e adaptar-se aos novos tempos, as autoridades não tomam iniciativas no sentido de encorajar os comerciantes e os proprietários dos imóveis a modernizar-se). Se nada for feito, digamos, dentro de 10 anos, a Baixa de Coimbra será uma mancha urbana sempre mais degradada e com frequência cada vez mais problemática.
O que se pode fazer para evitar essa tendência ? Temo que os novos espaços comerciais sejam o futuro do grande comércio, do comércio de massas. A Baixa não pode lutar com sucesso nesse mesmo terreno. Na Baixa, haverá lugar para um comércio alternativo, de pequenos volumes e de clientelas mais ou menos "marginais", por exemplo, um comércio de artesanato, de productos étnicos, de antiguidades. A exemplo do que se passa nos centros históricos renovados de outras cidades europeias, a Baixa também poderá ser um espaço de actividades culturais, sociais e lúdicas, incluindo galerias, salas de exposição, cafés-concerto, pubs, restaurantes alternativos, pequenos teatros. A Baixa deve também ser repovoada, isto é, a habitação também tem uma função a desempenhar nesse processo de renascimento, de refundação da vida social dessa àrea histórica da cidade. Obviamente, tudo isso, implica uma mobilização de recursos, públicos e privados, bem como muita vontade, sensibilidade e cultura por parte dos agentes da renovação urbana necessária. Será que todas essas pré-condições existem em Coimbra ou toda esta lenga-lenga não passa de uma utopia irrealizável e a Baixa está condenada a transformar-se num feio testemunho de uma lumpenCoimbra de outros tempos.
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