quinta-feira, dezembro 22, 2005

BIOPOLÍTICA

Quando as próprias pessoas não se concebem sem subordinação ao "sistema", quando a sua escravatura é assumida e indispensável à sobrevivência (mais do que imposta por qualquer poder), quando as pessoas não conseguem raciocinar fora dos padrões e valores dominantes, quando consideram que a sua tristeza é intrinseca à vida, inevitável e fatal, quando se resignam à obediência aos ritmos e às transcendências do Império, da máquina do consumo, do lucro e do interesse, quando as pessoas valorizam as paixões como simples objectos de contrabando individualista, quando a utopia e o sonho são considerados sinónimos de estupidez ou inconsequente ingenuidade... quando tudo isso acontece, estamos no universo da BIOPOLÍTICA, da má política que se introduz no mais pequeno interstício da vida, que aliena e distancía do conhecimento racional da realidade e dos afectos. Na BIOPOLÍTICA, a escravatura é felicidade e as pessoas temem sobretudo a liberdade, porque não sabem o que fazer dela, porque não conseguem ficar sózinhas a debater as suas ilusões e fraquezas, porque se submetem a mitos, esfinges e figuras de talha dourada a pingar "bondade".

A inspiração desta elocubração subversiva (!) veio-me do livro "Império", escrito por Michael Hardt e Antonio Negri. Leiam. Leiam também e sobretudo "Ética" de Espinoza (porque o bem e o mal contam). Faz bem. Areja as ideias. Faz pensar diferente e dá energia para percorrer o caminho da felicidade, concebida como sabedoria que conduz ao conhecimento dos afectos e à Alegria. Que conduz ao espírito positivo, não ao cinismo nem à revolta estúpida e violenta de que saem queimados os próprios revoltosos bem como inocentes que se encontram no sítio errado à hora errada. E que se lixe o Nietzsche que dizia que a felicidade é um projecto dos fracos. A gente sabe o que fizeram e continuam a fazer os "fortes"...

Feliz Natal (não estavam à espera desta cedência ao sistema!...). As contradições não antagónicas (Marx dixit) são inerentes à dialéctica da vida.

;-)

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