
Adorei a interpretação súblime de Bruno Ganz cuja semelhança física com Adolf Hitler é espantosa. Gostei do modo como o povo alemão é posto (honestamente) em causa.
Um fenómeno assim não é fruto de geração espontânea nem de um "putsch" de uma minoria violenta que se mantém no poder à custa de repressão generalizada. É óbvio que houve repressão. Os judeus, os fracos e os dissidentes foram brutalmente eliminados. Contudo, o nacional-socialismo contou com o apoio activo de largas camadas da população, cujo mal-estar, que se seguiu à derrota da I Guerra Mundial e à Grande Depressão, foi instrumentalizado pelos nazis através da maior manobra de manipulação colectiva de que há memória. Outros analistas vão mais longe e chegam a insinuar que existiria uma espécie de "maldição germânica" profunda que teria sido o caldo favorável a Hitler. Digamos que os Alemães teriam uma predisposição (cultural) para se auto-considerarem superiores e para tentarem dominar os outros povos (relegados à categoria de "inferiores"). É verdade que as obras de homens como Nietzsche (atente-se em particular no seu conceito de "vontade de potência"), Heidegger ou Wagner foram conhecidas fontes de inspiração do anti-semitismo e do expansionismo nazi. Esse é, no entanto, um tema apaixonante, algo perigoso e inesgotável...
Gostaria apenas de citar uma frase de Hitler (i.e. de B. Ganz) proferida em determinado momento do filme que me impressionou e que diz muito àcerca da personalidade do dito cujo:
"Se a guerra está perdida, pouco me importa que o povo morra. Não contem comigo para verter uma única lágrima que seja. O povo não merece outra coisa." A lógica hedionda e assassina por trás desta afirmação é a seguinte: quem é derrotado, é fraco; quem é fraco não merece viver.
Gostaria apenas de citar uma frase de Hitler (i.e. de B. Ganz) proferida em determinado momento do filme que me impressionou e que diz muito àcerca da personalidade do dito cujo:
"Se a guerra está perdida, pouco me importa que o povo morra. Não contem comigo para verter uma única lágrima que seja. O povo não merece outra coisa." A lógica hedionda e assassina por trás desta afirmação é a seguinte: quem é derrotado, é fraco; quem é fraco não merece viver.
2 comentários:
Para comentar este texto, vou recorrer a outro que já tinha escrito no blog http://amesadecafe.blogspot.com:
Já tive o privilégio de ver a "Queda" e adorei! O que mais me marcou foi a inocência de certos "membros activos" desta guerra, pessoas cuja inocência e ingenuidade deixaram criar ilusões românticas acerca de uma personagem tão cruel que custa a acreditar que tenha sequer um lado humano. De facto é tocante a inocência da secretária de Hitler, uma jovem por ele tão adorada, bem como o caso do rapaz que luta pelo nacional – socialismo com a convicção profunda de que está a lutar pela pátria... Uma pátria ignorada pelo seu Führer...
Por outro lado, o caso obsessivo de Frau Goebbels que ama tanto o nazismo que pensa que é melhor a morte do que a vida do pós – Hitler! Chega ao ponto de decidir irremediavelmente o futuro dos seus seis filhos.
A personagem de Hitler, exemplarmente interpretada por Bruno Ganz, é também surpreendente e provoca aquilo que o próprio se recusava a sentir por achar contrário à natureza: compaixão! Nos seus últimos tempos, de facto, este monstro não passou de um velho senil que ainda acreditava na prosperidade do seu regime… Um velho rabugento e caprichoso do qual temos pena! Isto porque, perante a sua decadência, não conseguiu admitir os seus erros, pensou sempre que fizera o melhor: prova evidente da deturpação mental de que sofria.
Este filme choca, principalmente pelo facto de a deformação mental de Hitler se ter contagiado a uma grande quantidade de gente e por muitos dos que agora acusamos de colaboradores deste terem sido simples sonhadores românticos e ingénuos que acreditavam na legitimidade do ideal nazi e aos quais muita coisa foi omitida! Mas isto, como todos sabemos, teve uma única razão de ser: a elevada inteligência deste “homem” e a sua capacidade de argumentação! O que nos leva a reflectir acerca do poder e da inteligência ao serviço de ideais deturpadíssimos. Como é que alguém com tantas capacidades intelectuais e oratórias foi tão estúpido e cruel e ao mesmo tempo, tão utópico (no mau sentido, claro)?
De acordo a "90%" com o teu comentário. O problema é que pode subentender um branqueamento da História. Tenho algumas reservas em relação à "inocência" ou ao "romantismo" de certos seguidores de Hitler. Também não consigo ter "pena" de uma loucura tão destrutiva.
Porém, levantas uma questão muito pertinente: a do poder e da legitimidade das convicções. Por vezes, faz-se um elogio indiscriminado das convicções, como se acreditar em qualquer coisa fosse, em si mesmo e em abstracto, um leitmotiv louvável. De facto, é necessário especificar e avaliar o conteúdo das convicções. Há convicções que mais vale a pena não ter...
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