Mudar... É bom ou mau? Há coisas que ficam, coisas que vão e todos sabemos que a mudança é inevitável. Ficar estanque num momento, numa situação, num local, numa expressão não traz nada de bom... Nem que seja pela monotonia de estar constantemente igual.
É bom mudar quando a mudança nos leva a algo que acreditamos ser melhor. Porque partimos com o sentimento de empenho e expectativa em relação ao futuro, ao que nos espera, ao virar da esquina.
Será bom mudar quando se trata de uma mudança contrariada? Como enfrentamos o que se segue se estamos contrariados, se temos um pé atrás, na expectativa de voltar ao conforto do passado?
Tudo depende do modo como encaramos a mudança... Boa ou má, é inevitável para a nossa evolução enquanto seres humanos e sociais, por isso, para mim, há que aceitá-la e aprender a viver com ela, mesmo que não nos agrade.
Não digo que deva existir conformismo relativamente ao destino... (Se é que isso existe.) Digo, sim, para haver abertura às mudanças e lucidez suficiente para ver o que é ou não possível ser mudado. Se for possível alterar uma situação, então que sejamos nós os "fazedores de mudança".
Já dizia o Camões:
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.
2 comentários:
«Só é possível transformar-se na medida em que já se é.»
Friedrich Novalis
Acho que a mudança é imanente da própria vida. Há mudanças que ocorrem independentemente da nossa vontade, por vezes, contra a nossa vontade. Há mudanças que queremos e que planeamos com maior ou menor antecipação, com maior ou menor detalhe.
Há pessoas que se acomodam, que querem parar o tempo, eternizar situações que lhes foram confortáveis em certo período, que se fixam num presente que desejariam eterno.
É óbvio que, quando se julga estar bem, toda a mudança (principalmente, quando é imposta) provoca mal-estar, ansiedade, resistência. Mas, no fim de contas, mudar é inevitável e a melhor estratégia é liderar a mudança ou, pelo menos, percebê-la e acompanhá-la.
Há muitas mudanças que se notam só à posteriori. Olhamos para trás e acordamos para as coisas que não são como eram, quase surpreendentemente. A transformação ocorreu subrepticiamente, misturada num quotidiano que parece igual. Acontece, por exemplo, quando olhamos para os nossos pais ou para os nossos filhos e nos apercebemos, DE REPENTE, que estão mais velhos, mais crescidos, mais chatos, mais independentes... E não sabemos exactamente quando tudo isso aconteceu, como se precisassemos de datar as mudanças, de lhes dar um momento preciso.
Há quem resista à mudança com medo de arriscar, por não ter a certeza do desfecho, por recear o fracasso ou o sofrimento. Nao se pode não viver por causa do risco de viver. Mas, o que é importante é a convicção, a determinação em atingir objectivos. De facto, a entrega já é um objectivo. A finalidade é apenas o zénite da acção. O que importa é não apenas o destino mas também a viagem. Nunca é derrotado quem se entregou honestamente e a fundo um projecto em que acreditou.
Claramente há projectos e projectos, bondades e maldades, coisas que valem a pena e outras nem tanto. Isso fica ao critério de cada um na certeza de que, no final, o princípio da responsabilidade funciona em pleno. Isto é: não se pode atribuir ao destino ou à má sorte as consequências dos nossos erros. Mutatis mutandis: ninguém se deve apropriar sem a nossa permissão dos benefícios das nossas iniciativas.
Contudo, o livre-arbítrio e a responsabilidade individual têm limites porque não somos ilhas desertas. Temos histórias, passado, relações, o acaso (a providência?) também existe. É a falta de determinismo que dá magia à vida, que a torna tão perigosa, imprevisível e maravilhosa. Coitadas das pessoas que tentam controlar o mínimo detalhe das suas existências, que programam todas as mudanças, a quem falta essa magnífica virtude lusitana que se chama improvisação. São pessoas ansiosas, paradas, meticulosamente tranquilas no seu bloqueio. Portanto... infelizes. Ou melhor: auto-convencidas de uma felicidade de laboratório que esconde uma profunda falta de futuro.
Sem o sal da saudável loucura de viver, sem a exposição ao vento, ao frio e à chuva da vida... a vida é apenas morte adiada, uma chatíssima intermitência entre dois nadas: o do ante-nascer e o do pós-morte.
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