segunda-feira, novembro 07, 2005

"Cada povo tem os políticos que merece"

Partindo desta frase proferida pelo meu pai, pergunto:


Então porque é que os portugueses merecem (desculpem a expressão) a merda de governos que têm tido nos últimos tempos?

Para isto, encontro as seguintes respostas:
  1. A maioria acha que não é relevante que o povo escolha os seus representantes porque "eles são todos iguais".
  2. A maioria acha que a política não serve para nada, nem sequer funciona.
  3. A maioria acha que os outros podem tratar disso por eles pois "mais um, menos um" não faz a diferença.

Resumindo, o grande problema é a falta de informação e, mais que isso, a falta de FORMAÇÃO da população, para que haja uma sensibilização para a importância da intervenção de todos na vida política!

Uma sociedade democrática só o é quando os seus eleitores podem tomar decisões em liberdade. Isto é, livres de censura, mas também livres de ignorância, preconceitos e inconsciência.

A partir de Abril de 1974, os Portugueses adquiriram o direito à livre expressão. Agora, é necessário que haja meios para essa liberdade ser total/real.

1 comentário:

Anónimo disse...

Desculpa a conclusão (maldita, mas tautológica): o mal (ou o bem) de Portugal são... os Portugueses. Deixemo-nos de procurar desculpas nas deficiências crónicas das élites. Elas não resultam de geração espontânea... F. Felgueiras, V. Loureiro e quejandos não caem do céu aos trambolhões.

Teixeira de Pascoaes ("A Arte de Ser Português", Assirio & Alvim, 1998) dizia que a especificidade portuguesa provem de uma mistura única entre sangues ariano e semita: "A alma pátria é, portanto, caracterizada pela fusão que se realizou, na nossa Raça, do princípio naturalista ou ariano [gregos, romanos, celtas, godos] e do principio espiritualista ou semita [fenícios, judeus, árabes](...)."

Também fez furor recentemente um ensaio de José Gil: "Portugal Hoje, O Medo de Existir", Relógio d'Agua, 2004. O facto de um tal livro chegar aos tops de vendas revela bem os problemas identitários e de auto-estima de certos portugueses urbanos e cultos. Os outros não têm tempo para se coçar... com o desemprego, os transportes públicos, a creche para os filhos, o empréstimo para a casa, a criminalidade, as filas de trânsito, a gripe das aves, o Carlos Cruz e a Casa Pia...

Eu próprio tive pachorra para ler e comentar esse ensaio de pan-psicologia lusíada da seguinte maneira

O "drama português" parece idêntico ao de quase todas as sociedades em processo rápido de transição. A originalidade do nosso país resultará (apenas...) do salazarismo e do chamado "duplo esmagamento" da normalização democrática, isto é, Portugal terá escondido o medo do salazarismo por trás dos traumas do pós-modernismo que emergiram desde o início da normalização democrática. Terá passado abruptamente da não assumpção do salazarismo à biopolítica (ao bom senso) da globalização. E o cavaquismo (ajudado pelo endividamento e pelos subsídios) terá acelerado essa passagem ao fomentar o mergulho no contentamento do consumo e a erupção de uma classe média foleira. O guterrismo terá sido um salto em frente (efémero, desesperado e ingénuo) contra a prova dos factos, contra a terrível eloquência da realidade. Noutros termos ainda: Portugal terá andado a jogar às escondidas com os seus conflitos profundos e com as suas fraquezas e daqui terá resultado a incapacidade para gerar uma autêntica força colectiva, um comportamento confiante de criação, de afirmação e de desafio. Portugal terá insistido com os seus proverbiais "brandos costumes" em vez de "partir a louça" (encarar de frente os conflitos e resolvê-los) para, depois, arrancar solidamente em direcção ao futuro.

Posso compreender este ponto de vista, em especial, enquanto observador de longe (e de fora?) da evolução do tempo e do modo do nosso país, comparando as suas fraquezas e forças com as de outras realidades. Afinal de contas, talvez uma das características de "ser português" é julgar-se especial, visceralmente diferente dos outros... digamos, mais para pior do que para melhor. Tratar-se-ia, então, de explicar a nossa putativa inferioridade (ou complexo de inferioridade) com factores que são só nossos. Haveria uma espécie de modelo português da desgraça, uma fatalidade genética que se deveria descobrir na noite dos tempos, inscrita nos cromossomas dos nossos antepassados mais remotos e que nos levaria a concluir que o mal de Portugal são apenas... os portugueses. Restar-lhes-ia ainda uma reserva de lucidez para se aperceberem dessa maldita conclusão e, por isso, teriam "medo de existir", sobretudo, das consequências e dos riscos de existir, sombras de si mesmos, suicidários eternamente hesitantes.