Acho que as pessoas deviam nascer com um chip com uma memória da Humanidade, pelo
menos, um arquivo dos factos e realizações mais importantes. Uma espécie de ponto de partida universal e consensual a que todos teriam acesso independentemente da sua condição social, económica ou política, raça, credo ou religião. Bem sei que nestas coisas há bem pouco de consensual, mas qualquer coisa como umas "nações unidas do conhecimento" poderia fazer um esforço para criar essa história comum.
Qual o objectivo de tão peregrino projecto? Simplesmente, assegurar um mínimo de igualdade relativamente ao conhecimento e poupar tempo e energia aos seres humanos que passam a maior parte da vida a chegar às mesmas conclusões dos seus antepassados, a "(re)inventar a roda", a reinterpretar coisas bem conhecidas, a assimilar coisas triviais. Dir-se-à que desse processo de continua elaboração do que já é conhecido resultam novas nuances, perspectivas inovadoras, numa palavra, criação. Dir-se-à que o conhecimento é, por natureza, limitado e subjectivo, que não se pode pôr um ponto final em coisa alguma. Que o conhecido só é parcialmente conhecido e, portanto, pôr milhões de pessoas em cada geração a reflectir sobre o que a humanidade já conhece só pode enriquecer o conhecimento, descobrir falhas ou novas dimensões do que se conhecia.
Bem sei que o meu projecto é pura ficção científica, uma alucinação, um shortcut típico de uma era que se julga omnisciente. Mas, imaginemos por um segundo que não teríamos de "perder tempo" a chegar às mesmas básicas conclusões dos nossos antepassados. Quereria dizer que, a partir do tal chip integrado nas nossas "fisiológicas" faculdades, podíamos dedicar todo o nosso tempo e inteligência a descobrir coisas novas, a criar verdadeiramente, a fazer avançar o mundo mais depressa e melhor, sobretudo, evitando os disparates e atrocidades do passado.
Eu sei. Tudo isto pode parecer um exercício patético, tipo guião de um novo Matrix. Eu sei que a sobranceria científica e tecnológica, que a obsessão da racionalidade esquece uma vertente essencial das decisões e da história da Humanidade: as emoções. E para essas não há chip que valha... Emoções são matéria de arte, não de ciência.
1 comentário:
Subjectividade e percepção = o que me vem à mente ao ler este post.
Enquanto houver duas pessoas neste mundo, haverá sempre problemas e será impossível evitar os disparates e atrocidades do passado. Chip or no chip.
Culpa, porventura, das tais “emoções”. Raios partam as emoções.
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