domingo, fevereiro 10, 2013

Os mercados

Que coisa é essa a que chamam mercados, de que enchem a boca, de que têm um medo reverencial ou uma admiração ignorante? Que coisa é essa, tipo pesadelo que comanda a vida, que faz subir ou descer a esperança de alguns, que acende ou apaga luzes ao fim de túneis intermináveis? Que monstro é esse escondido em grandes torres de escritórios nas capitais que governam as finanças do planeta? Que polvo é esse que estende os tentáculos até ao mais pequeno meandro da vida de milhões de pessoas? Que magia é essa que, sem necessidade de planos, leis ou regulações, põe tudo em ordem ou se rebela contra a falta de sentido de certas (in)decisões políticas? Que presbítero é esse que pune ou perdoa os pecados de quem usa e abusa do dinheiro?

Pois bem, o mercado que compra e vende dezenas de milhões de euros de dívida pública, fazendo pagar mais ou menos aos Estados devedores, fazendo desviar mais ou menos dinheiro dos contribuintes para pagar juros, fazendo crer que estamos no princípio do fim da crise, para, logo no dia seguinte, através de vendas maciças que servem para encaixar lucros, nos recolocar no caminho das pedras, esse mercado, são alguns milhares de jovens à frente de ecrans repletos de gráficos, executando ordens de um punhado de investidores alojados em companhias de seguros, bancos, fundos soberanos. Umas centenas de pessoas em todo o mundo trocam informações ao minuto, criando dessa maneira um consenso que se traduz em ordens de compra ou de venda mais ou menos unilaterais conforme a nitidez das tendências associadas a esse consenso que podem ter pouco a ver com as tendências da realidade.

Estes mercados não rimam de todo com o modelo de concorrência perfeita que faria o mundo real funcionar no melhor dos mundos teóricos e cujos principais pressupostos seriam os seguintes: elevado número de compradores e vendedores sem que nenhum possa influenciar o preço de mercado; liberdade de entrada e saída do mercado; informação perfeita; produto homogéneo.

Os mercados da divida não julgam para além do cumprimento ou incumprimento de quem pediu emprestado.

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