terça-feira, fevereiro 05, 2013

Matemática? Não me lixem!


Um tipo apresenta um modelo matemático para demonstrar que, se o devedor entrar em falência, há uma probabilidade de 95% de o banco perder um máximo de x mil euros.

Um colega utiliza um modelo chamado Monte Carlo, baseado em hipóteses obviamente discutíveis (convenientes), para provar que uma certa empresa terá um lucro de y milhares de euros daqui a 20 anos com uma probabilidade de 90% e uma margem de erro de 5%.

Um professor universitário publica um trabalho altamente sofisticado com “resmas e pauletes” de regressões múltiplas para mostrar que quanto mais velho for um autarca menor a probabilidade de ser reeleito e que quanto menos dinheiro tiver uma Câmara Municipal menos despesas de investimento poderá realizar. Pois...

Exemplos do fetichismo da matemática, da tentação de algumas pessoas que se presumem muito inteligentes de capturar a realidade com sistemas de equações , de simplificar a complexidade da vida com aparato numérico, de contar as maiores banalidades com música de fundo supostamente científica. Há trabalhadores das ciências sociais que se deixam fascinar pela austeridade dos números, que substituem o risco dos erros de compreensão e o debate das ideias por fórmulas inegáveis mas simplesmente inúteis. Chamo-lhes cobardes ou ignorantes com revestimento matemático.

Não quero com isto dizer que se deva mandar a matemática para o lixo. É um instrumento poderoso de análise de dados e de formalização de teorias, mas não pode dispensar outras formas de leitura da realidade e de explicação das relações entre variáveis relevantes. Conclusões obvias baseadas em premissas falsas ou fantasiosas servem para quê? Pura brincadeira!

Talvez ainda mais criticável - a raiar o criminoso - é a utilização de modelos matemáticos para fazer ganhar ou perder, com a maior sofisticação e rapidez, somas colossais a individuos e instituições que não fazem a mais pequena ideia daquilo em que se metem, mas que se rendem, por vezes na maior ignorância, à perícia de fisicos e matemáticos postos ao serviço das indústrias do dinheiro, a troco do muito dinheiro que não ganhariam noutras indústrias e, menos ainda, na Universidade.

http://dealbook.nytimes.com/2013/02/05/financial-models-at-the-heart-of-lawsuit-against-s-p/

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