domingo, janeiro 27, 2013

O efémero das coisas mais importantes

Mete medo a ligeireza das coisas, a forma como as coisas e as relações mais importantes se podem desvanecer e substituir com tanta facilidade. Tudo parece incrivelmente precário, fugaz. Vive-se uma vida inteira ao lado de alguém, partilha-se tudo ou quase tudo com essa pessoa. Um dia, ela desaparece para sempre. A dor pode ser enorme, mas é momentânea, passageira, redentora. Porque a vida (a nossa vida) tem obviamente de continuar. Temos de sobreviver, ou seja, resistir à ausência, continuar neste caminho das pedras que é a vida, à procura de outras motivações e de outros afectos. Até ao dia em que o negro da nossa própria ausência se apresentará como algo de misteriosamente definitivo, a que não resistiremos, a que os outros resistirão. Obviamente. Mas – repito – é impressionante a capacidade das pessoas de desdramatizar as maiores perdas, de achar efémero o que ainda ontem era vital, coisa de vida ou de morte. A vida prevalece sempre, salvo a nossa própria vida quando nos deixa, sem alternativa nem explicação. Deixa-nos no Nada que nunca ninguém contou e que a religião tenta preencher com narrativas mais ou menos fantasiosas.

1 comentário:

Anónimo disse...

I think it's called "survival mechanism."