segunda-feira, novembro 29, 2010

Dinheiro e cultura

Ligo a televisão e caio na CNN. Um pateta alegre (presumo, cheio de dinheiro...) faz propaganda a um livro que escreveu, contando a história de gajos muito, muito ricos que nunca puseram os pés na universidade ou que de lá sairam depois de poucos anos de enfado, sem nunca acabarem qualquer grau académico. Fala de paradigmas de sucesso financeiro como Steve Jobs (saiu da universidade ao fim de 1 ano), Bill Gates (2 anos) ou Charles Branson (nunca lá entrou) e conclui que para ser rico não é preciso essa coisa fastidiosa que é estudar, mas sim ter uma única ideia genial com que se possa fazer negócio. Faltam-me as palavras para descrever o asco que isto me provocou: o elogio descarado da ignorância esperta, o desprezo da cultura e a absolutização do dinheiro, não como meio de viver bem, mas como objectivo em si mesmo que prescinde de tudo o resto, sobretudo da cultura.

Tudo isto enquanto se diz que a educação é o meio mais eficaz para escapar ao desemprego e à pobreza. E o que chateia é que essa ideia é efectivamente cada vez mais contrariada pela realidade da recessão que por aí se espalha, parecendo dar razão ao "pateta alegre"...

Faz-me lembrar a história que me contou um grande amigo há muitos anos. Licenciado em Economia, teve de começar a trabalhar dando aulas no ensino secundário. De biologia... Num teste ousou perguntar os nomes, naturalmente científicos, dos orgãos de reprodução masculino e feminino. Fazia parte do programa. Um dos alunos, cheio de esperteza, escreveu os nomes que sabia, naturalmente pouco científicos. O meu amigo deu zero às coloridas respostas. O aluno protestou, acrescentando que não precisava de saber aquelas tretas para ficar tão rico como o pai, um bem sucedido comerciante de fruta da zona saloia e lamentou que o meu amigo tivesse passado tantos anos em tantas escolas para saber "aquilo"!

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