domingo, setembro 04, 2011

O jogo da vida que não é jogo do Monopólio

O dinheiro simplifica tudo. Grande novidade!... Mas agora quero falar do dinheiro como unidade de medida das pessoas, não apenas do valor das coisas. Avaliar alguém com base na sua sensibilidade, inteligência, criatividade, sentimentos, honestidade, etc. é muito complicado, subjectivo, implica tempo, certezas e incertezas, erro. Por sua vez, o dinheiro que se tem é um critério único e simples, quantitativo. Se se tem mais do que outra pessoa quer dizer que se teve as qualidades (e defeitos) para obter essa tangível superioridade: astúcia, inteligência, escrúpulos (ou falta deles) para acumular dinheiro, para o disputar aos outros. De acordo com os compêndios de Economia o dinheiro desempenha essencialmente três funções: unidade de medida, meio de troca e instrumento de acumulação. Acrescento outra: simplificador da complexidade humana. Assim funciona o materialismo a que o mundo se submeteu. Mesmo pessoas que se distinguem pela sua cultura, generosidade, espírito artístico e criatividade, pessoas que realizam obras únicas e magníficas, aparentemente longínquas da lógica do dinheiro, parecem estranhas, pouco credíveis se as suas actividades não se traduzirem em mais dinheiro. Porque o dinheiro deve medir a raridade do que se faz, o interesse que desperta nos outros, a utilidade. E no fim de contas, não se percebe se se fazem essas coisas magníficas pelo que intrinsicamente têm de magnífico ou se se fazem pelo dinheiro que permitem obter. O instrumento de medida torna-se muitas vezes o objectivo em si mesmo. História de Bezerros de Ouro a que já a Biblia se referia... História de alienação, de subordinação a uma lógica que o capitalismo impôs a quase todas as sociedades, a um fétiche que reduz a variedade e as subtilezas do mundo a uma referência única, infantilmente intelígivel. A vida como um jogo do Monopólio é pouco de mais. E no entanto é disso que a ideologia dominante tenta convencer todos os dias tantos milhões de pessoas em todo o lado. E as pessoas acreditam nessa história da “criação de valor” e mobilizam todas as suas energias para serem bem sucedidas nesse jogo para crianças e adultos que nunca cresceram e que continuam a confundir um jogo com a realidade e com escolhas fundamentais das suas vidas.

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