As más notícias não param. Já chateia. Até os mais optimistas sucumbem.
A sensação é de arder em lume brando até à incineração inevitável. Ou de resvalar por um plano inclinado, caindo irreversivelmente num grande buraco. E tudo isto sem que se tomem decisões para evitar o fogo final ou a queda letal. Quem tem poder adia o esclarecimento dos interesses. Talvez, mais uma vez, uma não-decisão seja a decisão favoravel aos que têm verdadeiramente mais poder e, portanto, mais a perder ou mais a ganhar.
A sensação, num pequeno país como Portugal, è de impotência. Por mais que se cumpra pode não ser suficiente. Por maior que seja o rigor no respeito dos compromissos internacionais podemos ser esmagados por factores externos incontroláveis e devastadores. Restar-nos-à a clemência de quem decidirá sobre o nosso destino, dado o reconhecimento da nossa obediência e prurido na auto-flagelação.
O que é preciso evitar é a lei da carneirada, o pânico que conduz a comportamentos irracionais que produzem "self-fulfilling profecies". Se toda a gente levantar o dinheiro dos bancos ao mesmo tempo para o colocar debaixo do colchâo ou em supostos paraísos, os bancos colapsam (por mais sólidos que sejam intrinsecamente, porque o sistema bancário mais robusto depende de confiança) e a economia paralisa...
6 comentários:
"O que é preciso evitar é a lei da carneirada, o pânico que conduz a comportamentos irracionais que produzem "self-fulfilling profecies". Se toda a gente levantar o dinheiro dos bancos ao mesmo tempo para o colocar debaixo do colchâo ou em supostos paraísos, os bancos colapsam (por mais sólidos que sejam intrinsecamente, porque o sistema bancário mais robusto depende de confiança) e a economia paralisa..."
E' precisamente isto que devia ser martelado, vezes sem conta, na cabeca do cidadao-comum. O panico, realmente, ao invens da cabeca fria, resulta muitas vezes em "self-fulfilling profecies."
Alem disso, isn't macroeconomics full of peaks and valleys and rich of economic cycles? Ha' que ter esperanca, aproveitar as oportunidades e fazer como os chineses que nao distinguem, no seu alfabeto, "crise" de "oportunidade."
Panico e auto-flagelacao e' que nao levam a lugar nenhum.
A propósito de oportunidades... não deixar passar o momento mais apropriado para começar a comprar. Com os activos a preços tão deflacionados os bons negócios não faltarão e, à medida que a procura se reanima, o dinheiro recomeça a circular e o ciclo inverte-se.
"(...)e, à medida que a procura se reanima, o dinheiro recomeça a circular e o ciclo inverte-se." --> Precisamente. Ate' la', e' apertar o cinto de seguranca pois vai ser uma viagem atribulada :-)
Food for thought (tanto o artigo como os comentarios contra): http://www.bloomberg.com/news/2011-09-22/why-identifying-a-bubble-is-so-much-trouble-john-h-cochrane.html
Obrigado pelo link. Exista ampla literatura sobre a teoria das crises e do ciclo económico, fenómenos intrinsecos ao capitalismo. Keynes explicava a possibilidade de desequilibrio fundamentalmente através das expectativas, isto é: ex-post a procura não pode ser diferente da oferta, a poupança não pode ser diferente do investimento (com os devidos ajustamentos em economia aberta). Ex-ante, porém, é possivel tomar decisões de investimento com base na antecipação de uma procura que depois não se concretiza. O crédito permite exactamente realizar esses investimentos baseados numa procura que se revela mal antecipada. E depois a adaptação faz-se através dos preços e do volume de recursos utilizados, incluindo o emprego. No longo prazo tudo bate certo. As fases de expansão mais do que compensam as de recessão e a economia cresce. Mas, como dizia Keynes "no longo prazo estamos todos mortos". No curto prazo há quem sofra (e como) da divergência entre procura antecipada e procura real. Keynes sonhava que através da manipulação da despesa o Estado podia pilotar o ciclo económico coisa de que os actuais mentores da politica económica não querem ouvir falar porque acham que basta assegurar a estabilidade dos preços e o funcionamento do livre mercado aborverá todos os excessos. Estamos a ver que não é assim e nas últimas décadas as crises têm vindo a ser mais frequentes, mais acentuadas e mais abrangentes em termos geográfics e sectoriais (a que não é alheia a globalização e o crescimento de países até agora afastados da prosperidade). Mas o crescente paroxismo das crises pode também indicar o esgotamento de um paradigma de funcionamento das economias e das sociedades de mercado. E neste ponto resurgem as teorias da crise final do capitalismo. Pessoalmente acho que não estamos aí. O capitalismo tem revelado uma versatilidade notável, uma capacidade de adaptação à dinâmica politica e social fantástica. Tem sido compatível (em diferentes versões) com ideias políticas que vão da social-democracia ao liberalismo mais fundamentalista. E depois, após o falhanço do socialismo de Estado, não há alternativa... No fundo, a escolha é entre a liberdade e a obediência, entre a assistência e a iniciativa. As diferentes versões do capitalismo limitam-se a misturar de maneira diversa liberdade com solidariedade. Trata-se de disciplinar os instintos anti-sociais que podem decorrer do exercício da liberdade. Caimos na necessidade de regulação e de redistribuição para conciliar capitalismo com direitos humanos.
Estendi-me demais. Misturei alhos com bugalhos. Food for thought!
Os teus posts sao sempre "food for thought" Miguel. Ja alguma vez pensaste dar aulas? Acho que serias um EXCELENTE professor (ou, no minimo, seminarios ou congressos). Se essas palestras fossem abertas ao publico, adorava assistir a uma delas. Talvez um dia possamos conversar e trocar ideias como tantas vezes fizemos aos 13/14/15 anos.
Quanto a te "estenderes demais" ou "misturares alhos com bugalhos", keep doing it...you'll always have at least one reader. :-)
O que pensas disto? "The consistent rise in deposits is good news for Portuguese lenders that have been shut out of the interbank funding market for more than a year as a result of the country's fiscal crisis, showing that austerity and sovereign debt problems are not causing a run on its banks.": http://www.reuters.com/article/2011/09/21/portugal-deposits-idUSL5E7KL5V220110921
Confirma o que já sabia. Ao contrário dos gregos com algum dinheiro, que desviam para bancos em Chipre e na Suiça, os portugueses continuam (e bem!) a confiar nos bancos nacionais, porventura preferindo uns a outros mas mantendo o dinheiro no país. O que se está ao mesmo tempo a verificar é uma "guerra dos depósitos", à semelhança do que se passou em Espanha, fazendo aumentar as taxas de remuneração e puxando para cima as taxas do crédito ou degradando a rendibilidade dos bancos. Como os mercados externos de capitais estão fechados temo que não haja alternativas. Em simultâneo, o crédito à economia reduz-se e encarece, ajudando à recessão. Não me admiraria, como dizem os rumores, se o banco central intrduzisse um "cap" às taxas dos depósitos.
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