
Vivemos em tempos de flexibilidade hiperbólica. Nada deve ser fixo ou rigido. As pessoas têm de demonstrar capacidade de adaptação, se possivel, ubiquidade. Tudo isso em nome da eficiência. De felicidade nem se fala...
Considerações filosóficas que vêm a propósito de um projecto chamado “The new world of work”: chega-se de manhã ao emprego e não se sabe qual é o gabinete, qual é a secretária ou o computador, quais são os colegas com quem se partilha um espaço físico, cada dia, variável e imprevisível.
Pode dizer-se que, nos tempos que correm, o simples facto de ter emprego deve considerar-se uma benção. Pouco importa se se trata de emprego precário, mal remunerado e, muito menos, se é interessante ou não. Isso tudo são minudências. Dizia eu que se chega ao emprego e não se sabe onde se fica sentado, ao lado de quem. Em princípio, a única coisa que se sabe são as tarefas a executar, tarefas intangíveis num espaço indefinido e volátil em interação com pessoas puramente instrumentais para o supremo interesse da organização a que se destinam as ditas tarefas.
Pessoas/matéria-prima, trabalho sem dimensão social, primado do indivíduo e dos resultados económicos. O “new world of work” não é apenas uma maneira de utilizar racionalmente espaço físico escasso – é uma ideologia que se executa concretamente, colocando pessoas no espaço e no tempo, impondo-lhes incerteza e volubilidade, tirando-lhes segurança e tranquilidade. Porque essas “vantagens” produzem acomodação que não rima com performance. Empregados demasiado satisfeitos instalam-se e tendem a perder competitividade. Como dizia um meu antigo chefe: "os quadros são como os violinos - sem tensão não vibram...".
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