O que se está a passar com o caso da menina desaparecida no Algarve é simplesmente monstruoso e elucidativo do cúmulo a que pode chegar o media-mundo em que vivemos. Utilizando muito dinheiro e ligações do mais alto calibre, mobilizando meios e influências nunca vistos, aqueles pais começaram por procurar a filha, piamente e deseperadamente, com o apoio de uma opinião pública solidária e emocionada. Agora bombardeiam a imprensa mundial com alibis, provas de inocência, queixas contra a polícia e os jornais portugueses. A polícia tenta permanecer silenciosa. As especulações são alimentadas apenas pelos McCann, pela família e pela bateria de assessores de várias disciplinas de que dispõem.
É tudo muito suspeito e suscita comentários a nível global, absolutamente descabidos e tendenciosos, como os que acabei de ouvir na CNN. Um jornalista britânico branqueava o esforço mediático da família e acusava as autoridades portuguesas de falta de experiência nestes casos (como se houvesse algum precedente de escala comparável (*)) e de incompetência, pelo menos, no domínio das relações públicas e da comunicação.
Este deveria ser um caso de investigação criminal não de diplomacia, de rivalidade nacional, de religião ou de política e, ainda menos, de finanças. Porque assim se torna numa verdadeira porcaria, uma monumental instrumentalização e fraude.
O mais sensato que se pode fazer é moderar os comentários e deixar a investigação avançar seguramente no seu trabalho até chegar a conclusões irrefutáveis, para benefício da verdade e da decência, por mais dolorosa e espantosa que possa ser essa verdade.
(*) O único caso com alguma semelhança que conheço é o de Cogne, no Norte de Itália, em que a Sra. Annamaria Franzoni terá assassinado em 2002 o seu filho Samuele de 4 ou 5 anos, numa vivenda de montanha. O caso esteve omnipresente na imprensa transalpina, pelo menos até ao ano passado, suscitando enormes paixões na opinião pública, dados os mistérios e a convicção com que a mãe continuou a reivindicar a sua inocência, apesar de algumas provas que a incriminam. Depois de múltiplos recursos, acabou por ser condenada a 16 anos de cadeia, mas mantém-se alguma dúvida quanto à eloquência das provas... Houve alturas em que os debates televisivos eram quase diários com a própria suspeita em palco a defender-se e um batalhão de psicólogos, juristas, sociólogos, criminologistas a mandar palpites... Mas, que eu saiba, o folhetim quase não saiu de Itália.
4 comentários:
O Papa deve estar com uma cara de pau por ter recebido o casal... Não foi por acaso que as referências ao caso Maddie desapareceram do site oficial do Vaticano!
E parece que o encontro com o Papa foi arranjado por Tony BLair, amigo de Gerry McCann...
:O
De todas as opiniões que tive conhecimento ( mais que muitas...), a tua é de longe a mais sensata!
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