Sandra é uma moça muito bonita. Bonita como uma estátua de deusa grega feita de mármore imaculado. Tem cabelos longos, castanhos claros e encaracolados. Tem um corpo esbelto e caminha como se planasse sobre um lago de águas azuis e tranquilas. Gosta de sorrir como se estivesse num palco a recitar poesia perante espectadores anónimos e exigentes. Tem uma cor escura do sol do Sul que o inverno do Norte não consegue roubar.
Sandra é arquitecta, tem um sentido estético apurado, gosta de formas equilibradas e de combinações doces. Na sua face subsistem os traços de menina mimada a quem quase tudo era devido. Quando está sozinha a tomar café, no bar por baixo de sua casa, solta-se-lhe uma tristeza subtil e elegante. Olha para um longe que não existe à procura de uma tranquilidade que desapareceu, e uma sombra percorre-lhe os olhos. Tentou crescer e custa-lhe admitir que a vida não seja tão geométrica como os edifícios que aprendeu a desenhar, tão cândida como as pinturas de paisagens bucólicas que cobriam as paredes da casa paterna.
Sandra passa de raspão pelas pessoas, por todas as pessoas, não lhes toca, nem sequer com as palavras de circunstância em que é perita. Acho que, na verdade, tem medo das pessoas, tem medo de arriscar a sua caríssima liberdade que lhe dá segurança e solidão. Uma solidão que é uma espécie de envelope que a protege, mantendo-a, porém, parada na vida, à espera do que nunca aceitará. Sandra parece uma princesa que precisa de companhia para existir. Não precisa de amigos ou de amantes. Precisa de companhia, de um cão de raça, dócil e bonito que, no entanto, nunca será suficiente para lhe curar a melancolia.
Sandra está perdida como um passarinho a quem disseram que tinha de voar e que nunca conseguiu largar o ninho que lhe cresceu na cabeça.
5 comentários:
acho isso engraçado!que é que aconteçeu mais?
o que aconteceu mais...isso cabe-te a cada um descobrir/inventar :P
Há histórias que não têm de ser óbvias, há histórias que deixam a conclusão à reflexão dos leitores... Esta é uma delas e é isso que a faz tão interessante.
Gostei de ler.
gostei que tivessem gostado
Existem tantas sandras escondidas por aí!
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