Este tipo de profecia, catastrófica e sensacionalista, vende bem, supostamente serve para alertar consciências adormecidas ou irresponsáveis, mas não é credível. Assenta num conjunto de hipóteses rígidas e discutíveis (taxas de crescimento do PIB, pêso da tributação, composição inalterada da despesa, etc.). Também repousa numa visão extremamente cínica e pessimista do sistema político, o qual se teria tornado autista em relação à realidade financeira para perseguir finalidades puramente corporativas. Neste ponto, infelizmente, não me distancio muito do Dr Carreira. Segundo ele, a terapia necessária passaria por redução de pensões, subsídios de desemprego, número e salário dos funcionários públicos, etc.
Quero apenas referir dois "axiomas" (altamente controversos e impregnados de ideologia, apesar da alergia ideológica declarada) em que se baseiam as "recomendações" do Dr Carreira, advogado de prestígio e ex-ministro das finanças do PS.
- Em primeiro lugar, creio que o Dr Carreira pressupõe que os recursos (financeiros e humanos) poderiam ser (rapidamente) deslocados do sector público para um sector privado virtuoso e eficiente (?!). A não ser assim, a "guerra civil" começaria "sooner rather than later".
- Em segundo lugar, creio que o Dr Carreira supõe uma distribuição do rendimento inalterada, senão muito mais desigual. Isto é: seriam os do costume a pagar a providencial terapia de choque enquanto os "vencedores" do sistema escapariam a todas as purgas. De facto, segundo o catecismo do Dr Carreira, presumo que os ricos (os ricos honestos e trabalhadores, naturalmente!) seriam os grandes protagonistas da mudança para melhor.
2 comentários:
Uma bela picada, esta.
O ideal para esses arautos da desgraça, era termos um país cheio de ricos! honestos e trabalhadores claro está, para que as suas teorias contra os pobres fossem aplaudidas. O problema é que neste país já quase que são...
Enviar um comentário