Antes de começar, quero deixar bem claro (para os mais susceptíveis) que me considero de mente extremamente aberta e sem preconceitos… Tenho amigos de todas as orientações sexuais, raças e credos e não é por serem diferentes de mim que lhes dou menos respeito. Aliás, recorrendo a um pequeno cliché: É na diferença que está a piada do mundo. Se quiserem verifiquem aqui, aqui e aqui.
Já me deparei com muitíssimas situações em que a linha entre mentes liberais e mentes preconceituosas é muito ténue. Tão ténue que ambas não se distinguem.
A verdade é que quando existem grupos que foram ou são alvo de preconceito, os seus membros acabam, sem se aperceberem, por ficar tão ou mais preconceituosos que aqueles que os marginalizam. Isso já aconteceu e ainda se vai verificando com negros… Lembro-me de andar na escola, no 7º ou 8º ano e de um colega angolano culpar a professora por lhe ter dado negativa num teste, argumentando que a razão dessa nota era simplesmente devida à cor da sua pele. Isto quando, qualquer pessoa que visse o seu desempenho no dito teste veria que estava objectivamente fraco. É estranho eu ainda me recordar deste episódio, mas a verdade é que me marcou, porque foi o primeiro contacto que tive com aquilo a que chamo o “preconceito do preconceito”, aquilo que muitos dizem que é “mania da perseguição” ou “discriminação positiva”. Para mim, a atitude deste meu colega foi extremamente preconceituosa em relação à professora, pois já estava a apelidá-la de racista por lhe dar uma negativa.
O que vejo quase diariamente nos dias de hoje não se prende tanto com preconceitos racistas mas sim com homofobia… Não se pode adjectivar nada como “paneleiro”, “gay” e afins que já se é homofóbico. Este termo hoje em dia está muito na moda… Fazem-se verdadeiras manifestações de repudia quando alguém diz na brincadeira que dada peça de roupa é “muito gay” ou quando se diz que “o último a chegar é paneleiro”, etc, etc, etc… Faz-me lembrar aquelas situações em que dizer que alguém é preto é considerado pejorativo. Ora, qual é o problema de dizer que fulano é preto e sicrano é branco???
Há uns dias, por exemplo, estava num café e chegou um amigo meu (por sinal também com grande abertura de espírito) a descrever a atitude de um homem com quem se tinha cruzado apelidando a sua atitude de “abichanada”. Imediatamente um outro tipo, que ouviu a conversa e se sentiu “ferido” se levantou indignadamente e saiu do café, como se o meu amigo fosse um bárbaro preconceituoso. Nesta situação, coloco a seguinte questão: quem é que é aqui o preconceituoso? O meu amigo que estava, naturalmente a contar uma história cómica ou o jovem que se levantou a achar que o meu amigo era homofóbico?
Quem me conhece sabe perfeitamente que odeio preconceitos, venham eles de onde vierem… E estas situações já cansam, porque quando os argumentos são utilizados por tudo e por nada perdem qualquer razão e coerência. E quem perde com isso são os grupos que suscitam (infelizmente) preconceitos.
sexta-feira, junho 23, 2006
Abertura ou Preconceito?
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12 comentários:
tens razão em tudo o que disseste... o post ta lindo!!
conseguiste por em palavras o que venho sentido dalguns tempos atras para agora...
ainda bem que não sou a única a achar isso;)
não és a única não. já um gajo não pode ter piada que é acusado de qualquer coisa.
Podes achar que és livre de preconceitos, mas quase ninguém é. É assim que somos criados, para desconfiar do que é diferente e para julgar as pessoas pelo seu aspecto. Também não irias gostar que te tratassem sempre por "mulher", ou que contassem uma piada, que te denegrisse, por seres mulher. Nós somos os “dominantes” e por isso estamos habituados a fazer piadas com os mais fracos, mas isso não quer dizer que estejamos certos, e que eles é que são muito sensíveis e não aguentam uma piada.
1º, por muito poucos preconceitos que eu ache ter, tens razão, não há ninguém totalmente livre de preconceitos.
2º, Dizes:
Nós somos os “dominantes” e por isso estamos habituados a fazer piadas com os mais fracos
São fracos porquê??? Porque é que nós somos os "dominantes"? Não acho que um homossexual seja mais fraco que eu... E é precisamente por considerar que somos iguais que não percebo porque é que há tanta suscpetibilidade!
Por exemplo, quando me dizem, "mulher ao volante perigo constante", eu não ando para aí a acusar quem o disse de machismo e afins... E não preciso de recordar ninguém que só há 30 anos é que as mulheres conseguiram igualdade de direitos relativamente aos homens.
Espero ter clarificado o meu ponto de vista.
Acho que tens alguma razão, mas o termo "paneleiro" é claramente pejorativo. Aliás, é usado mormente como insulto. Logo, é normal que as pessoas se sintam insultadas, e que considerem o simples uso da palavra homofóbico.
Dizer que dada peça de roupa é muito gay, eu também o faço. :)
Dizer que uma dada atitude é "abichanada" também acho normal. Agora "paneleiro" é mesmo um insulto, não vejo volta a dar-lhe.
Ok, paneleiro é um insulto usado em imensos grupos de amigos na brincadeira... Mas pronto, é insulto.
A questão é que naquela situação do "o último a chegar é paneleiro", se foste ao link que lá está, viste que o motivo da indignação não era esse termo pejorativo, mas sim umas reticências que eles interpretaram como "paneleiro"!
Porra! Qualquer dia até é uma vergonha não ser gay ou paneleiro ou homosexual ou bicha ou orgulhosamente gay ou o diabo que parta a coisa. Qualquer dia os fatelas dos "hetero" têm de andar escondidos algures por aí, não vá aparecer um honestissimo e modernissimo gay a dizer que ser hetero já não está a dar e que é preciso estar na onda e o caraças.
E depois esta coisa do "gay pride" é que não casa a bota com a perdigota. Pride de quê? De mocar de uma maneira particular, de levantar a cabeça e dizer a toda a gente que não é nenhuma vergonha apanhar no dito cujo?
Eu não sou pride nem da minha pila nem do meu cú nem das posições do kama sutra que já pratiquei, nem da quantidade de orgasmos por hora, nem de merdas dessas. Isso tudo é do domínio privado e ninguém tem nada a ver com isso, nem de que ser orgulhoso.
Pronto. Os gays foram (e nalguns casos continuam infelizmente a ser) marginalizados e maltratados e escorraçados e discriminados e por aí fora. Mas, calma lá. Não vamos cair no politica e socialmente incorrecto de sinal oposto. Isto é: tratar os "hetero" como os "hetero" tratavam (ou ainda tratam) os "homo". Política do "olho por olho, dente por dente" ? As discriminações positivas criam quase sempre os efeitos contrários aos desejados.
Deixem os "hetero" e os "homo" em paz e na cama, se possível, porque o lugar dessas coisas é na cama (ou fora dela mas a fazer o que se sabe). Não tratem nem um "homo" nem um "hetero" de uma maneira especialmente vantajosa ou desvantajosa por serem isso mesmo.
O politicamente correcto começa a tornar-se um veneno, por isso evito-o...
Alice, inicialmente, nesse site, não estavam reticências. Estava algo como "p..." ou "pan...", não me lembro bem. Mas deixava bem claro que a palavra em questão era paneleiro. Entretanto, devido aos protestos, colocaram reticências onde antes tinham isso.
Miguel, relê o meu comentário. Eu disse apenas que "paneleiro" é insulto. Tal como "nigger" é insulto, em inglês, pelo menos nalgumas partes do mundo. As palavras têm a sua conotação.
De resto, acho o teu comentário um bocado desproporcionado. Não querer que uma empresa pública use um termo como "paneleiro" é equivalente a não querer que use o termo "nigger".
E esse discurso de ser hetero ir ficar fora de moda não faz sentido nenhum. Em que é que sentes a tua liberdade enquanto heterossexual restringida? Em não quererem que uses o termo paneleiro? Em outros terem a liberdade de fazerem manifestações de "gay pride", por estúpidas que te possam parecer*?
* também não gosto delas, e acho-as contra-producentes, mas numa democracia...
Não queria susceptibilizar ninguém e todas as palavras que possam ofender devem ser evitadas ou utilizadas com precaução (incluindo paneleiro de que não faço nenhuma questão e que utilizo humoristicamente, sem qualquer intenção de estigmatizar quem quer que seja).
O meu comentário é apenas um desabafo (confesso: excessivamente colorido) de alguém que não faz das opções sexuais bandeira de coisa alguma nem motivo de qualquer discriminação.
Então estamos de acordo. Paneleiro usado humoristicamente está óptimo. Mas nalgumas circunstâncias, pode ofender. Quando usada na publicidade por uma empresa, parece-me muito feio.
De resto, usar o ser-se homo, hetero ou seja o que for como elemento identitário principal parece-me excessivo. Antes de se ser atraído por quem quer que se seja atraído, é-se uma pessoa, e há características bem mais importantes que a orientação sexual. Nesse sentido, entendo a tua "irritação" (à falta de melhor palavra).
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