sábado, junho 10, 2006

10 de Junho, dia de Portugal

Há, sim senhor!
Há um Portugal sério, um Portugal que trabalha, que estuda; curioso, atento e honrado! Há um Portugal verdadeiro que não perde o seu tempo com inimigos fantásticos e cujo único desejo é apenas e grandemente ser Ele próprio! Há um Portugal, o único que deve haver e que afinal é o único que não anda por causa dos vários Portugais inventados de todos os lados de Portugal! Há um Portugal profissionalista, civil e insubornável! Há, sim senhores!
Mas entretanto...
Entretanto, a nossa querida terra está cheia de manhosos, de manhosos e de manhosos, e de mais manhosos. E numa terra de manhosos não se pode chegar senão a "
falsos prestígios". É o que há mais agora por aí em Portugal: os "falsos prestígios".
E vai-se dizer de quem é a culpa de haver "manhosos" e "falsos prestígios": a culpa é nossa, e só nossa! Não há nenhum português, nem o escolhido entre os melhores, que não tenha forte parte nesta culpa. Porque os portugueses, os bons, os melhores, os sérios, os inteiros, enfim os portugueses (se se entendesse bem esta palavra) não sabem, ou melhor, não desejam lutar contra a manha dos que chegam a ser ou favorecem os "falsos prestígios". Ora, a maneira de lutar contra a manha não é a da manha e meia, antes pelo contrário, é a de detestá-la absolutamente, e mais, desmascarando-a publicamente e ali mesmo...

Almada Negreiros, Manha e Falso Prestígio: Os dois males de que sofre a vida portuguesa in Textos de Intervenção

4 comentários:

Alice disse...

Escolhi-o porque, não sendo um texto recente, tem uma actualidade assustadora!

(Note-se que o excerto que transcrevi é de um texto publicado no Diário de Lisboa em 3 de Novembro de 1933!!!)

Engraçado como 73 anos depois, as mesmas temáticas são abordadas. Santa estagnação...

Contra_producente disse...

Mas não teria também o próprio Almada culpas no cartório?

Alice disse...

Como assim? Podes explicar que culpas?

Contra_producente disse...

Tipo: Intelectuais que se sentam em tertúlias a criticar e a bradar aos 4 ventos a sua loquaz sapiência e mordacidade afiada como se só eles vissem o que está mal com o país em vez de tentar agir e fazer algo para ao menos tentar efectivar essa mudança...enfim, um problema muito comum das auto-denominadas elites intelectuais de certos países.